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Sem informações, mães se desesperam em busca dos filhos

Após percorrer hospitais, elas recorriam a jornalistas com fotos de parentes para tentar descobrir se estavam vivos

Testemunhas e vítimas contam como foram os momentos de resgate depois da colisão do trem na estação Once

DE BUENOS AIRES

No fim da manhã de ontem, as equipes de resgate ainda trabalhavam numa das plataformas da estação do Once, tomada por feridos leves orientados para esperar sentados pelo transporte a hospitais próximos.

Os feridos graves eram rapidamente identificados por uma equipe de triagem e levados para atendimento.

As macas iam e vinham, com pessoas com o pescoço imobilizado e, muitas, com as pernas sangrando.

As equipes de resgate se concentravam principalmente na junção entre o primeiro e o segundo vagões, local mais avariado do veículo.

Enquanto um bombeiro queimava as ferragens para abrir espaço, outros tentavam entrar pelas janelas e pelos buracos abertos no vagão.

"Houve um homem que ficou parado, metade do corpo para fora do vagão, metade dentro, a manhã inteira. Só podia mexer a cabeça. Dava muita aflição", conta, assustada, Mercedes María, 57, que estava no local no momento do choque e ficou para ajudar famílias que buscavam informações sobre seus parentes.

O anúncio de que havia tantos mortos (49) só foi feito no começo da tarde, o que aumentou a tensão dos familiares de possíveis vítimas que se aproximavam da estação em busca de parentes.

Sem informação e após percorrer hospitais, mães que não localizaram seus filhos voltavam à estação e pediam ajuda a jornalistas.

Chegavam com fotos ou com celulares abertos com imagens dos filhos e mostraram aos repórteres.

A queixa mais comum era sobre a lista de feridos, que continha muitas pessoas sem identificação.

Enquanto os feridos saíam pela frente, onde estavam os jornalistas e as câmeras de TV, os mortos começaram a ser retirados por outra saída.

Há muito comércio em volta da estação, mas as lojas permaneceram vazias e o único assunto dentro delas era a tragédia. Comerciantes ficaram na porta observando o movimento.

"Estava muito apertado lá dentro, como em todos os outros dias. As pessoas me pediram ajuda para sair, e tentei ajudar. Mas não pude muito, estou machucado e precisava sair também", diz Alejandro Ortíz, 23, que quebrou a perna esquerda e foi atendido num dos hospitais próximos da estação.

'foi tudo muito feio'

Usando dois piercings e com penteado moicano, ele contava que estava muito nervoso. "Os médicos disseram que eu tinha de ir para casa, para descansar. Foi tudo muito feio."

No final do dia, a Polícia Federal reforçou o número de oficiais na estação e armou um cordão de isolamento, para tentar fazer com que os trens voltassem a operar normalmente.

"Não sei se vou conseguir voltar pra minha casa tão cedo", disse Angel Nuñez, que esperava o retorno do serviço de trem.

(SYLVIA COLOMBO)

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