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Referendo na Síria é realizado em meio a boicote e violência

Ativistas e nações ocidentais veem consulta como uma 'encenação', enquanto regime mantém forte repressão

População vota no rascunho de uma nova Constituição, que permitirá eleições multipartidárias

DE SÃO PAULO

Enquanto o governo sírio realizava referendo sobre a nova Constituição, ontem, ao menos 31 pessoas morreram em enfrentamentos no país.

Oposição e nações ocidentais veem a votação como encenação, dada a grave situação política da Síria, em que a ditadura de Bashar Assad tem reprimido com violência desde março a insurgência que pede sua deposição.

"Como você pode ter eleições se há batalhas por todos os lados?", disse à Folha Rami Abdul Rahman, diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos. O diretor da entidade baseada em Londres diz, ainda, que o comparecimento às urnas foi baixo, e não apenas pelo receio da população em sair de casa.

"Com medo ou sem medo, as pessoas não querem votar. Você não pode realizar referendo enquanto há embates."

O governo, porém, celebra a votação. A agência oficial de notícias Sana fala de "participação gigante" da população, "refletindo o entusiasmo dos cidadãos em levar adiante o processo de reforma política".

O referendo decide sobre o rascunho da nova Carta síria, incluindo a supressão do artigo da Constituição que impede a realização de eleições multipartidárias -nas quais Assad poderia concorrer.

As urnas foram abertas às 7h locais e fechadas às 22h. Assad votou ao lado de Asma, sua mulher, na sede da TV estatal do país. O resultado deve ser anunciado hoje.

"Em que deveríamos estar votando? Se vamos morrer em bombardeios ou com disparos?", perguntou o ativista Walid Fares à agência de notícias Reuters. Ele mora em Homs, onde os ataques já completam quatro semanas.

A Cruz Vermelha tenta retirar feridos da cidade. Ontem, as negociações foram frustradas e não houve resgate. Estão em Homs repórteres estrangeiros, além dos corpos da jornalista americana Marie Colvin e do fotógrafo francês Rémi Ochlik, mortos na quarta-feira passada.

DIÁLOGO

Para o Ministério do Interior, o referendo foi realizado "de maneira normal na maior parte das províncias [...], exceto por algumas áreas".

Adel Safar, primeiro-ministro sírio, criticou os pedidos de boicote por parte da oposição, dizendo que eles demonstram falta de comprometimento com diálogo. "Estamos interessados em espalhar a liberdade pelo país."

Declarações de líderes internacionais apontavam opinião diversa ontem. Guido Westerwelle, ministro do Exterior alemão, afirmou que o referendo não foi "nada além de uma farsa". "Assad tem de abrir caminho para transição política", afirmou em comunicado oficial.

(DIOGO BERCITO)

Com agências de notícias

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