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'Monstros' de Assad acuam rebeldes sírios

Com esse apelido, força liderada por irmão de ditador provoca fuga de oposicionistas em seu maior reduto, Homs

Considerada leal e à prova de deserções, 4ª Divisão Blindada pinta seus veículos militares com frases ameaçadoras

Goran Tomasevic/Reuters
Homens fazem fila para comprar pão debaixo de neve na cidade de Al Qusayr, perto de Homs, reduto dos oposicionistas sob ofensiva da ditadura síria
Homens fazem fila para comprar pão debaixo de neve na cidade de Al Qusayr, perto de Homs, reduto dos oposicionistas sob ofensiva da ditadura síria

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM DAMASCO

"A batalha é corpo a corpo", diz um alto funcionário do governo à Folha, aludindo à luta acirrada na cidade de Homs nas últimas 48 horas, desde iniciou a mais recente ofensiva militar do Exército sírio contra a capital da revolta contra o regime.

Liderada pelo general Maher Assad, irmão do presidente Bashar Assad, a 4ª Divisão Blindada foi deslocada para Homs, parte de uma ofensiva terrestre contra os bairros insurgentes.

Esta unidade de elite provoca pânico entre os opositores em razão de sua fama.

Ontem, obteve uma primeira vitória: rebeldes do ELS (Exército Livre da Síria) abandonaram seu principal reduto na cidade, o bairro de Baba Amro, no centro.

A tropa pinta seus blindados com os dizeres "Monstros da 4ª Divisão". O regime sabe que essa é sua unidade mais leal, diante do temor das deserções no Exército, que chegariam a 40 mil numa força de quase 300 mil.

Uma das testemunhas do ataque, Bilal Homsi, explicou por rádio que ajudou a recolher restos humanos espalhados após a ofensiva.

Ele afirmou também que o número de mortos aumenta em razão da ausência de tratamento médico adequado.

"A região está controlada. O Exército já iniciou a busca das armas e dos terroristas, rastreando cada sótão e cada túnel", disseram fontes do serviço de segurança em Damasco, acrescentando que ainda restam alguns focos dos grupos armados.

DESTRUIÇÃO

Antes do recuo tático do ELS, recrudesceram os combates no perímetro de Baba Amro entre o Exército regular e grupos de desertores que queriam impedir o ataque ao bairro, que foi "bombardeado de maneira intermitente", disse Hadi Abdullah, membro da Comissão Geral da Revolução Síria.

Segundo ele, os bombardeios foram indiscriminados, atingiram edifícios habitados e mesquitas e as forças governamentais usaram armamentos pesados, como morteiros.

O fogo procede de três lugares específicos: a sede dos serviços de inteligência em Homs, o bairro Karam Chemchem -habitado sobretudo por alauítas, a minoria religiosa à qual pertence a família de Assad- e um posto de controle militar montado na periferia da cidade.

Vários chefes do ELS confirmaram que "as forças do regime conseguiram cortar uma rota clandestina pela qual chegavam mantimentos", e o acesso à cidade está completamente suspenso.

O subcomandante em chefe do ELS, coronel Malik Kurdi, confirmou que seus combatentes se retiraram depois de enfrentar forte resistência para impedir a entrada no bairro das tropas de Assad.

Kurdi explicou que a campanha do Exército sírio teve o respaldo de bombardeios intensos e a participação de cerca de 7.000 soldados, e as informações que chegam da cidade indicam que o reduto da oposição foi destruído centímetro por centímetro pelas forças do governo. Há muros derrubados e edifícios destruídos pelo fogo.

"Rezem pelo Exército Livre da Síria", pediram os opositores em um comunicado.

Ward, um morador da cidade, disse que o bairro de Khaldiya foi o mais afetado, depois de ser atacado com bombas de fragmentação e obuses de tanques.

"É uma catástrofe em todos os sentidos da palavra", afirmou Ward, explicando que os feridos estão sendo tratados em seus bairros por estudantes de medicina, atuando como voluntários.

"Ainda há alguns cadáveres nos escombros das casas destruídas, e nós os estamos tirando com nossas próprias mãos, por falta de equipamentos adequados."

Tradução de CLARA ALLAIN

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