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'Não nos renderemos', diz líder islâmico sírio

Confidente de ditador Assad, maior autoridade religiosa do país acusa os americanos de planejar invasão da Síria

Grão-mufti critica imãs sauditas por 'exortarem matança' da população e nega que tenha ameaçado ocidentais

KAREN MARÓN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM DAMASCO

"Não nos renderemos nunca", afirma à Folha o grão-mufti Ahmad Bahreddine Hassoun, autoridade islâmica mais importante da Síria e confidente do presidente Bashar Assad, desde seu gabinete em Damasco.

Para Hassoun, 62, os Estados Unidos querem invadir a Síria para transformá-la num "campo de investimentos".

"Eles querem destruir nosso país e a região inteira. Os EUA e a Europa veem tudo sob um prisma econômico, enxergando seu domínio e não o bem-estar do ser humano", disse, aludindo ao fato de que, por trás do levante contra o regime, estariam potências ocidentais apoiando os eleitores armados.

"Querem criar o prelúdio de uma guerra mundial com base religiosa", advertiu Hassoun, líder religioso sunita que é visto como o único habilitado a emitir uma fatwa, pronunciamento legal no islã.

A ideia, defendida pelo grão-mufti, é que, com a Síria caindo, as potências ocidentais teriam o caminho aberto para passar sobre o Irã -deixando a Rússia estrategicamente cercada.

"Disse a Moscou que, se a Síria cair nas mãos dos EUA, não restará para a Rússia um lugar onde ela possa tomar uma bacia de água no Mediterrâneo", disse, referindo-se à base naval de Tartous, a única de Moscou no Mediterrâneo.

Hassoun questiona, contudo, a capacidade de os EUA repetirem o que fizeram com a Líbia. "Assad não é Muammar Gaddafi, e não se pode comprar a Síria como a Líbia. Temos uma grande cultura nacional, e as revoluções manchadas de sangue não são nosso estilo", disse.

PROVOCAÇÕES

Hassoun critica os imãs "vindos de fora", especialmente da Arábia Saudita, que acirram os ânimos da população com discursos provocadores que "exortam à matança do povo sírio".

Segundo ele, o governo apoia o povo em seu desejo de "correção no poder". "Não há mais partido único no país, e isso foi aprovado na nova Constituição. Agora o partido que mais servir ao povo é o partido que será eleito."

O líder religioso, porém, diz esperar que não haja partidos religiosos, "porque dividem as pessoas". "Os extremistas, os talebans e aqueles que combatem em nome da religião se retroalimentam mutuamente para exterminar as pessoas", afirmou.

No último dia 2 de outubro, o clérigo perdeu seu filho em um assassinato cometido perto da Universidade de Ibla, na rodovia que une a cidade de Idlib a Aleppo.

O xeque foi acusado de, no funeral de seu filho, ter ameaçado com o envio de terroristas à Europa e aos EUA. "Apenas descrevi um cenário em que os terroristas poderiam surgir facilmente a partir da situação", disse. "Meu comentário deve ser entendido no cenário de uma autodefesa, ou seja, um possível ataque da Otan na Síria."

No mesmo discurso, Hassoun acusou clérigos fundamentalistas de instigar esse tipo de atentado, com o apoio do Ocidente.

Tradução de CLARA ALLAIN

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