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Análise

Direito de Teerã de enriquecer urânio está no cerne de impasse

ACORDOS ANTERIORES ESBARRARAM EM RESISTÊNCIA OCIDENTAL A PERMITIR QUE IRÃ MANTENHA ATIVIDADE

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

A oferta do Irã de retomar o diálogo e abrir à ONU instalações que oficialmente não fazem parte do seu programa nuclear indica que o país sente o peso das sanções e de ações de sabotagem, como o assassinato de cientistas e a introdução de um vírus cibernético em suas fábricas de enriquecimento de urânio.

O fracasso das negociações anteriores, porém, não autoriza otimismo. Sob a tensão potencializada pelas ameaças de ataque de Israel, o risco de guerra será maior se agora não houver avanço.

Desde 2002, quando veio à tona que o Irã construía sua primeira usina de enriquecimento, em Natanz, sucessivos diálogos esbarraram na resistência do Ocidente a reconhecer o direito de Teerã a manter essa atividade, autorizada pelo TNP (Tratado de Não Proliferação Nuclear), do qual o país é signatário.

Esse reconhecimento não viria de graça, mas em troca de inspeções mais amplas -as previstas no Protocolo Adicional da AIEA (agência atômica da ONU), que vai além das salvaguardas obrigatórias do TNP e permite o acesso internacional a locais não listados pelo país-alvo como contendo material físsil.

Em 2003, o Irã suspendeu por dois anos o enriquecimento, em diálogo liderado por França, Alemanha e Reino Unido. Também concordou em implementar o Protocolo Adicional, à espera de incentivos econômicos e do reconhecimento de suas prerrogativas atômicas.

Essa tratativa acabou interrompida por Teerã, que acusou os europeus de, sob pressão do governo George W. Bush (2001-2009), não cumprir as contrapartidas.

Desta vez, a chance de um acordo na mesma linha é mais difícil porque Israel, potência nuclear fora do TNP, faz pressão para que o Ocidente mude a "linha vermelha" traçada para o Irã.

O limite proibido não seria mais a produção da bomba, mas o chamado "limiar da bomba", a capacidade de construí-la num período curto de tempo, situação hoje de países como Brasil, Coreia do Sul, Alemanha e Japão.

Dado o clima desfavorável ao entendimento, analistas que buscam a solução pacífica do impasse consideram importante que o Irã faça um gesto de boa vontade ao reiniciar o diálogo com americanos e europeus.

O que tem sido sugerido é que o país suspenda o enriquecimento a 20% -nível usado em reatores de uso médico e mais próximo dos 90% necessários para a bomba (o urânio a até 5% abastece reatores de energia).

Os iranianos parecem ansiosos para reduzir as pressões que os cercam, tanto que nos últimos dias circulou entre países-membros do TNP o rascunho de acordo sobre futuras inspeções que estava sendo negociado com a missão de alto nível enviada pela AIEA no final de fevereiro.

Foi uma tentativa de rebater as acusações de não cooperação feitas pelo diretor geral da agência, Yukiya Amano. O Irã afirma -e a informação foi confirmada à Folha por duas fontes não iranianas- que ofereceu acesso a outros locais apontados como suspeitos por Amano, além da base de Parchin.

Agora, não pode entregar menos do que isso.

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