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Mercosul requer avanços, diz diplomata

Samuel Pinheiro Guimarães, dirigente do Mercosul, vê excesso na defesa brasileira contra bens de Uruguai e Paraguai

Para ex-ministro, bloco precisa criar meios para impedir desequilíbrios no momento de atrair investimento externo

ÁLVARO FAGUNDES
DE SÃO PAULO

Alto Representante-Geral do Mercosul desde 2011, o embaixador Samuel Pinheiro Guimarães defende que os sócios menores do bloco (Uruguai e Paraguai) tenham tratamento preferencial.

Ele diz que é preciso igualar as condições (por meio de subsídios, por exemplo) para que as empresas estrangeiras invistam não só no Brasil.

Para o ex-ministro de Assuntos Estratégicos, há excessos na defesa brasileira contra a entrada de produtos dos países vizinhos. Leia a seguir trechos da entrevista.

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Folha - O presidente do Uruguai, José "Pepe" Mujica, disse recentemente à Folha que o intercâmbio do Mercosul está muito bem, mas que ninguém bate na porta do bloco e isso é sinal de que ele está estancado. O sr. concorda?
Samuel Pinheiro Guimarães - Eu acho que ele tem cumprido de certa forma seus objetivos iniciais, de expansão do comércio. A existência de divergências comerciais não é um sinal de fracasso, é normal. O aumento das exportações muitas vezes significa o deslocamento de um produtor local, criando preocupações com emprego etc.

Mas alguém bate na porta do bloco?
Primeiro, não há necessidade de o bloco crescer indefinidamente. Um bloco econômico é feito para dar preferência a seus integrantes. Se todo mundo entrar, ele deixa de ser bloco econômico. O ambiente dele é a América do Sul, não podemos imaginar países asiáticos com uma tarifa externa comum à do Mercosul. O segundo ponto é que o Equador deseja entrar no Mercosul, e outros países não podem, casos do Chile, do Peru e da Colômbia, devido ao acordo que têm com os EUA e com outros países.

O sr. vê alta do protecionismo?
Não há dúvida, inclusive porque os países menores, na minha opinião, têm o direito de se proteger, seja dos chineses, seja contra quem quer que seja, assim como nós queremos nos proteger dos chineses.

Ao mesmo tempo, nós queremos nos proteger do leite em pó uruguaio, por exemplo.
O que é excessivo. Se formos comparar os níveis de produção, o que significa isso no mercado brasileiro é muito pequeno.

Mas então por que a pressão?
Porque no Brasil é assim: ou se é competitivo e se quer toda liberdade para exportar, ou tem setor menos competitivo e quer impor restrições.

Não falta uma política integrada do bloco para a China?
Na realidade seria conveniente que houvesse. O que acontece é que os países têm preocupações distintas.

Qual a razão de não se adotar uma política comum?
É preciso primeiro que se discuta esse tema, que os países abandonem a sua visão nacional e desejem coordenar políticas. Para isso, é preciso que se debata esse tema.

E por que não se debate?
Talvez os países maiores escolham caminhos nacionais.

Por que isso?
As dimensões são muito diferentes. Agora, é de grande interesse do Brasil o desenvolvimento do Mercosul e dos seus vizinhos. O mercado natural para nós são os países mais próximos.

Tudo o que está ocorrendo hoje na União Europeia pode ser um freio para o desenvolvimento do Mercosul?
São coisas totalmente diferentes. Para ter uma ideia, a Comissão Europeia tem 30 mil funcionários em Bruxelas; o Mercosul, 30. Os países da UE têm uma política comercial supranacional. O Mercosul é um acordo intergovernamental que criou uma união aduaneira.

E esse é o futuro dele?
É importante que ele se conscientize da necessidade de se transformar em um projeto de desenvolvimento econômico dos países que são membros. É preciso mecanismos que estimulem o comércio entre os países e que não ocorra o desequilíbrio na atração dos investimentos.

Como criar condições para que uma empresa prefira investir no interior do Uruguai, em vez de no Brasil?
É preciso igualar as condições de atração, por meio de subsídios, por exemplo. Por que as montadoras não se instalaram todas em São Paulo? Porque houve vantagens que compensaram as desvantagens locais. É preciso certa compreensão com os parques produtivos menores, não colocar sistematicamente barreiras a produções que são pequenas diante do mercado nacional. Sócios menores precisam de tratamento preferencial, ainda que já exista isso em muitos casos. É do nosso interesse econômico e político o avanço dos nossos vizinhos.

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