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Mark Weisbrot

O Brasil deveria apoiar Sachs

Economista, que desafia a candidatura oficial, seria o 1º chefe do Banco Mundial qualificado para o cargo

UMA DAS mudanças mais importantes que Lula imprimiu ao Brasil foi na política externa. Pela descrição dele, os governos anteriores se pautaram quase exclusivamente pelos EUA ou pela Europa em sua orientação no mundo. Mas Lula viu que havia muito a ser ganho no mundo das relações Sul-Sul, incluindo, é claro, a integração latino-americana, além da confiança nas capacidades e escolhas do próprio Brasil.

Esses esforços em muitos casos exigiram que o Brasil enfrentasse os EUA e seus aliados no G7, como quando ajudou a liderar os países em desenvolvimento que abandonaram as negociações da OMC em Cancún, em 2003.

O Brasil também já entrou em conflito com a política externa dos EUA com relação à proposta da Alca (Área de Livre Comércio das Américas), ao apoio do Brasil à Bolívia e à Venezuela, à sua oposição à ampliação das bases militares na Colômbia e ao golpe militar de 2009 em Honduras; no Oriente Médio, vem tentando desacelerar a marcha rumo à guerra com o Irã.

O Banco Mundial é uma das mais importantes instituições multilaterais a impactar o mundo em desenvolvimento. Sempre foi controlado por Washington; seu presidente é escolhido pelo governo americano em um processo cercado de sigilo.

Desde 2007, quando Paul Wolfowitz, o arquiteto da guerra no Iraque, renunciou à presidência do banco em meio a um escândalo, o Brasil pede "um processo aberto, democrático e transparente (...) baseado nos méritos de uma pluralidade de candidatos, independentes de nacionalidade".

Agora, pela primeira vez em 68 anos, há um desafio aberto à candidatura oficial, lançado pelo economista Jeffrey Sachs. Em poucas semanas, Sachs já ganhou o apoio de seis países. Se for escolhido, ele será o primeiro presidente do Banco Mundial qualificado para o cargo. Todos os anteriores foram banqueiros, nomeados políticos ou pior.

Sachs, em contraste, passou a última década promovendo o desenvolvimento em países pobres. Foi um partidário importante do Fundo Global para o Combate a Aids, Tuberculose e Malária, que já salvou milhões de vidas. Também vem sendo um forte proponente do cancelamento da dívida de países pobres.

Seu projeto Aldeias do Milênio já mostrou que a assistência externa pode ser usada de modo construtivo para aumentar a produtividade agrícola e reduzir a mortalidade.

É claro que Sachs ainda é um americano, e muitos prefeririam alguém de um país em desenvolvimento. Mas não foi indicado ninguém desse tipo, e o processo de indicações termina em uma semana.

Logo, a opção se dará entre Sachs e outro indicado político de Washington --Larry Summers seria a primeira opção até agora--, que fará o que querem o governo e as empresas dos EUA. Já Sachs é independente dos partidos americanos e das empresas que os patrocinam; não tem hesitado em enfrentar esses interesses quando necessário.

Países pobres como o Quênia e Timor Leste arriscaram ser punidos por Washington ao indicarem Sachs. O Brasil é muito menos vulnerável e terá muito mais impacto se apoiar o primeiro candidato independente qualificado para o cargo.

Tradução de CLARA ALLAIN

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi

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