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De quimono e véu, mulheres 'ninja' desafiam vozes conservadoras no Irã

Ninjútsu, arte marcial japonesa, é vista por elas como fonte de autoconfiança e respeito

Maryam Rahmanian/Folhapress
Iraniana 'ninja' salta sobre colegas durante aula de ninjútsu em academia de Karaj, a 40km da capital do país, Teerã
Iraniana 'ninja' salta sobre colegas durante aula de ninjútsu em academia de Karaj, a 40km da capital do país, Teerã

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

Elas vestem quimono preto, saltam umas sobre as outras sem se tocar e fazem acrobacias com adagas e correntes. Tudo isso sem tirar o hijab, o véu islâmico que cobre cabelo e pescoço.

As mulheres "ninja" formam uma confraria cada vez mais numerosa no Irã e desafiam vozes conservadoras que abominam tanta ousadia num país onde até andar de bicicleta é privilégio masculino.

Há uma mulher para cada três novos inscritos na rede nacional de academias de ninjútsu, arte marcial japonesa criada na Idade Média.

Hoje são ao menos 3.000 as adeptas, de todas as idades e classes sociais, espalhadas pelas dezenas de centros de treinamento nas principais cidades iranianas. O número de homens é o dobro.

A participação feminina no ninjútsu ainda é modesta num país de 70 milhões de habitantes, mas o número disparou, principalmente depois que a mídia estatal pôs a prática sob os holofotes.

"A cada ano, cerca de 150 mulheres se inscrevem, mas agora a demanda explodiu", disse à Folha o mestre Akbar Faraji, 45, coordenador nacional do ninjútsu e dono da principal academia do gênero no Irã, em Karaj, 40 km a oeste de Teerã.

Faraji importou o ninjútsu do Japão há exatos 22 anos -aniversário festejado ontem com bolo e música japonesa.

A parede da academia é cheia de fotos de Faraji em poses de combate no Japão.

Enquanto Faraji conversa com a reportagem, gritos e barulhos de queda no tatame ecoam pela sala. Umas moças simulam luta com bastão, enquanto outras treinam cambalhotas e estrelas.

Os movimentos são, em sua maioria, hesitantes e pouco sincronizados, mas algumas alunas exibem pleno domínio dos exercícios. Uma delas é F.K., 28, faixa preta apertando a cintura.

"O ninjútsu me dá autoconfiança e consciência da energia corporal. Alguns se incomodam em ver uma mulher fazendo isso, mas eu acho que o esporte engrandece nossa alma", diz a jovem, que, como as outras colegas, não quis ter o nome divulgado.

P.A., 16, conta que costuma fazer demonstrações de agilidade e intimidação toda vez que parentes ou amigos homens questionam seu hobby. "É assim que ganho respeito."

Já D.T., 28, não vê a hora de participar das competições entre academias. "Quero me especializar e virar mestra."

Para não ferir a lei que proíbe contato físico entre homens e mulheres sem vínculo familiar, o dono da academia delega os exercícios à sua mulher, treinadora profissional.

Faraji diz que trabalha sob supervisão da Federação Iraniana das Artes Marciais, como ocorre em outros países, mas nega relatos de que estaria formando mulheres combatentes a serviço do regime.

"As meninas são apenas atletas, pessoas normais que querem uma vida mais serena. Como alguém pode achar que ninjas defenderão o país em caso de ataque com bombas e mísseis?"

FOLHA.com

Veja galeria de fotos das iranianas 'ninja'
folha.com/fg6918

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