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Invasão cria saia justa para igreja em Cuba

Grupo de dissidentes se instala em templo em Havana e quer que papa, que chega à ilha no dia 26, seja mediador

Cúpula católica critica ação e diz que local não é "trincheira política"; manifestantes afirmam estar sem comida

FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

A apenas dez dias da chegada do papa Bento 16 a Cuba, o protesto de um grupo de dissidentes cubanos que ocupa desde terça-feira uma igreja no centro de Havana se transformou numa situação embaraçosa para o regime comunista e para a cúpula da Igreja Católica.

Os 13 opositores se instalaram na basílica de Nossa Senhora da Caridade, no centro de Havana, e prometem só sair de lá quando suas demandas, que incluem a "abertura de diálogo" com o governo e reajuste de pensões, forem atendidas.

"A visita do papa é simplesmente um meio, que ele seja o condutor para a petição da oposição", disse à Folha anteontem, de dentro da igreja, Vladimir Calderón, 47, que se apresenta como um dos porta-vozes do grupo.

"Não temos ideia de quanto tempo vamos ficar. Se tivermos que permanecer, ficaremos. Podemos ficar até o papa chegar e continuar depois que for embora."

Na conversa, ele contou que a comida que levaram para o templo havia acabado. Disse esperar que familiares trouxessem provisões para o local ontem.

Segundo Calderón, o grupo faz parte do Partido Republicano de Cuba -com integrantes em outras províncias que também tentaram acampar em igrejas na terça, sem sucesso.

Anteontem, a igreja lançou um duro comunicado no qual diz que o protesto é "irresponsável" e "ilegítimo".

"Ninguém tem direito de converter os templos em trincheiras políticas. Ninguém tem direito de perturbar o espírito de celebração dos fiéis cubanos que aguardam a visita de Bento 16", escreveu Orlando Márquez, porta-voz da Arquidiocese de Havana.

A nota foi publicada no jornal oficial "Granma".

O papa chega a Cuba no dia 26, 14 anos depois da histórica visita de João Paulo 2º.

"Não queremos transformar a igreja numa trincheira política. A igreja é a casa de Deus e seus filhos têm direito a fazer suas petições. Simplesmente tomamos esse recinto por segurança para nossas vidas, nossas famílias", rebateu Calderón.

O dissidente disse que o protesto quer tornar realidade a mensagem de João Paulo 2º: "Que Cuba se abra ao mundo, que o mundo se abra a Cuba".

A manifestação não ganhou adesão imediata dos dissidentes cubanos com maior reconhecimento no exterior. A blogueira crítica do regime Yoani Sánchez considerou, no Twitter, a ação "desrespeitosa" e "invasiva". Outros dissidentes disseram não ter relações com o grupo.

A situação é um desafio para as pretensões da igreja de crescer como espaço de debate tolerado pelo regime e como ponte com os opositores dentro e fora da ilha interessados, em geral, num processo de reformas ordenado e sem choques políticos. Em 2010, o cardeal de Havana, Jaime Ortega, mediou a liberação de 130 presos políticos.

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