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Análise

Eleições EUA

Adversário de Romney é falta de entusiasmo

Ainda favorito para ser candidato republicano a presidente dos EUA, ele não empolga nem os seus apoiadores

JULIA SWEIG
ESPECIAL PARA A FOLHA

Após as derrotas de Mitt Romney em Estados do sul dos EUA, até mesmo seus partidários naturais estão fazendo força para convencer-se de que ele é seu homem.

Perguntei a um executivo corporativo republicano de 40 e poucos anos, alguém que cresceu no Michigan, o Estado natal de Romney (e onde o pai do candidato foi governador), como está se sentindo com a campanha.

Chamou minha atenção sua falta de entusiasmo. Confessou algo que o preocupa profundamente: "Não prevejo que ele seja o líder visionário que [o ex-presidente] Ronald Reagan [1981-89] foi".

É aí que está o problema. Romney não é Reagan. Nos EUA de hoje, duvido que mesmo Reagan conseguisse conquistar a indicação.

O Partido Republicano está tão dividido por questões culturais e sociais e tão rigidamente ortodoxo em sua visão econômica antigoverno que Romney simplesmente não pode representar de modo digno de crédito toda a diversidade dos eleitores das prévias dos Estados de maioria republicana.

O próprio histórico de atuação dele torna pouco convincente sua antipatia por Obama. Romney foi governador de Massachusetts, a terra de John e Ted Kennedy, entre 2002 e 2006.

Na época, foi um liberal, tendo instaurado a cobertura obrigatória e universal de saúde, apoiado o direito das mulheres à contracepção e em grande medida defendido o direito de gays formar uniões civis.

Se ele se tornar o candidato presidencial republicano, suas posições em política externa vão, em sua maioria, alinhar-se com as de Obama, mesmo que seu tom e seu discurso o diferenciem deste durante a campanha.

Romney ainda é o provável rival republicano de Obama. Empresário de sucesso, ganhou mais de US$ 20 milhões em 2011 apenas com seus investimentos.

É contrário aos sindicatos e parece fazer pouco caso das carências materiais enfrentadas pelos pobres e pela classe média, cada vez mais empobrecida.

Essas características podem aumentar sua atratividade para alguns independentes e para os republicanos mais convencionais.

Mas as escolhas pessoais de Mitt Romney também o fazem ser alguém difícil de gostar, mesmo para os republicanos.

Mórmon, ele é membro, líder e importante contribuinte financeiro da Igreja dos Santos dos Últimos Dias, instituição que a Igreja Católica vê como seita.

Sua frieza pessoal faz parecer que ele tem dificuldade em criar vínculos com pessoas e talvez até mesmo com animais: uma vez ele amarrou o cachorro de sua família ao teto do carro quando dirigiu uma longa distância para passar férias no Canadá.

A capa da edição desta semana da revista "New Yorker" traz uma imagem de cartum de Romney, sorridente, dirigindo um carro com o conservador Rick Santorum, seu maior adversário no sul, amarrado ao teto, com o nariz ao ar, como um cachorro.

É muito possível que Romney conquiste a indicação presidencial republicana, mas sua fraqueza entre os conservadores sociais que compõem bem mais que 30% da base política de seu partido sugere que seja desenhada uma imagem diferente: Romney na casinha de cachorro de Santorum.

JULIA SWEIG é diretora do programa de América Latina e do Programa Brasil do Council on Foreign Relations.

Tradução de CLARA ALLAIN

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