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Clóvis Rossi

Brics, gigantes de passos miúdos

Cúpula discute em Nova Déli proposta de se criar uma espécie de BNDES conjunto para o grupo

O grupo Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) faz, no fim do mês, sua quarta reunião de cúpula, em Nova Déli.

Há pelo menos dois pontos interessantes na agenda, mas, antes de entrar nela, convém deixar claro o que os Brics não são: não são um grupo que coordene suas ações e suas políticas.

Ou, simplificando: seja qual for o assunto que ganhe o topo da agenda global, nunca Dilma Rousseff pega o telefone, liga para Hu Jintao, o presidente chinês, e pergunta a ele: e então, Hu, o que fazemos agora? Nunca.

O que tem ocorrido, ao contrário, é descoordenação entre os cinco países. Tome-se o caso da crise síria: Índia e África do Sul foram favoráveis à resolução de condenação ao ditador Bashar Assad, no entanto vetada pelos dois outros Brics membros do Conselho de Segurança (Rússia e China). O Brasil não participava do CS naquele momento, mas apoiou Índia e África do Sul.

Oliver Stuenkel, professor de Relações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas, explica a descoordenação, em artigo recente: "Enquanto Brasil, Índia e África do Sul estão pressionando por uma significativa redistribuição do poder institucional, China e Rússia são poderes do status quo, relutantes em mudar um sistema que lhes serviu bem nas últimas décadas". Bingo.

Explicitadas as limitações dos Brics, passemos a pontos da agenda em que pode, sim, haver coordenação. Primeiro, deve ser aprovada proposta chinesa para fazer empréstimos em yuan, a sua moeda, para os demais parceiros, o que se soma à ideia, que já vem de outras cúpulas, de fazer uma parte do comércio nas moedas nacionais.

São iniciativas interessantes, como passos para fugir do que os Brics chamam de "armadilha do dólar", a moeda em que é realizada a metade do comércio global de bens e serviços.

Representaria, se de fato prosperar, "o começo de uma gradual mudança para um sistema monetário internacional mais diversificado, em que o status internacional do yuan refletiria mais adequadamente o poder econômico subjacente da China", escreve Daniel McDowell, da Universidade da Virgínia.

Segunda proposta: a criação de um banco de desenvolvimento do grupo, uma espécie de BNDES dos Brics. O noticiário que vem da Índia dá a entender que é uma decisão já tomada, a ser apenas sacramentada pelos líderes na cúpula.

No Brasil, no entanto, há muito mais dúvidas do que certezas a respeito da iniciativa.

A começar do fato de que os bancos de desenvolvimento de cada um dos cinco Brics têm dimensões -e, portanto, poder de fogo- tão desiguais que torna complicado colocá-los no mesmo saco.

A China, a mais forte do grupo, já se antecipou reivindicando a presidência do eventual novo banco, contrariando a proposta indiana de presidência rotativa. Autoridades brasileiras, de seu lado, temem que o novo banco sirva apenas como instrumento da política econômica chinesa, o que não interessa ao Brasil.

Resumo geral: os Brics estão, de fato, ganhando presença no mundo, mas cada um por si. A coordenação entre eles apenas engatinha.

crossi@uol.com.br

AMANHÃ EM MUNDO
Rubens Ricupero

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