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Ajuda do BCE não se traduz em alta do crédito na Europa

Após repasse de € 489 bi para bancos, empréstimo cresce só 1,1% em janeiro

Para analista, programa impediu a quebra de várias instituições financeiras, mas a
crise ainda persiste

ÁLVARO FAGUNDES
DE SÃO PAULO

Mais que um PIB da Suíça foi despejado a juros módicos nos bancos europeus no fim do ano passado, mas essa enxurrada de dinheiro pelo menos até agora não se traduziu em aumento do crédito.

Em dezembro, o BCE (Banco Central Europeu) emprestou € 489 bilhões para 523 instituições financeiras para que elas pagassem em três anos, a juro de 1%.

Naquele mês, o crédito concedido a empresas e consumidores cresceu 1% e, em janeiro, 1,1% -distante da média dos primeiros dez meses de 2011 (em torno de 2,5%) e ainda mais da obtida antes de a crise ter início, em meados de 2008, quando chegou a passar dos 10%.

Um outro sinal de problema é que os bancos estão deixando cada vez mais dinheiro na linha overnight (de um dia para o outro) do BCE.

Essa desaceleração mostra a relutância em emprestar dos bancos, mas traz outra questão: se há "tomadores dispostos" a pegar esse dinheiro, diz o economista Jacob Kirkegaard, do Peterson Institute, em Washington.

Economias como Grécia, Espanha e Portugal (que ou já estão em recessão ou não devem escapar dela) tiveram quedas acentuadas no crédito em janeiro. Na França e na Alemanha, houve crescimento, porém modesto.

Para Kirkegaard, no entanto, esse cenário de restrição ao crédito não deve perdurar.

"Os bancos vão sofrer forte pressão dos governos para emprestar, mas é preciso que existam tomadores dispostos a usar o dinheiro", afirmou.

Além disso, houve uma nova rodada de ajuda do BCE, no fim de fevereiro, em que os bancos (800 dessa vez) pegaram mais € 530 bilhões.

Com esse mais de € 1 trilhão, os bancos europeus puderam se capitalizar e impedir uma quebra que lembraria o cenário pós-Lehman Brothers, em 2008, quando a crise se tornou global.

"O programa do BCE foi um sucesso considerando a alternativa, que seria um desastre com a quebra de vários bancos no primeiro semestre deste ano. No entanto, ele não significa o fim da crise", diz o dinamarquês Kirkegaard.

DESTINO

Se uma parte do dinheiro foi usada para recapitalizar os bancos, outra foi destinada à compra de títulos da dívida dos países, o que ajudou a derrubar os retornos cobrados pelos investidores para adquiri-los, controlando, ainda que temporariamente, um outro front desta crise.

Em janeiro, os bancos espanhóis compraram € 23 bilhões em títulos soberanos, e os italianos, € 21 bilhões - os dois montantes são recorde.

Essa operação é atraente (os bancos pegam dinheiro a 1% e adquirem papéis que rendem cerca de 5% ao ano), mas não é sem risco: caso Itália e Espanha passem por algo semelhante ao que vive a Grécia, as instituições estarão abarrotadas de títulos desvalorizados e que não conseguirão passar adiante.

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