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Análise Autor buscou na literatura respostas para o seu país MANUEL DA COSTA PINTOCOLUNISTA DA FOLHA O italiano Antonio Tabucchi desenvolveu sua obra em diálogo com a cultura portuguesa -em especial com a poesia de Fernando Pessoa. Escreveu ensaios sobre ele, traduziu seus poemas e chegou a colocá-lo em cena com seus heterônimos numa obra ficcional, "Os Três Últimos Dias de Fernando Pessoa - Um Delírio", em que, no leito de morte, o poeta conversa com Álvaro de Campos, Ricardo Reis e outras de suas "criaturas". O livro que melhor traduz essas afinidades, porém, é "Noturno Indiano", em que Pessoa aparece como uma espécie de marca d'água. A viagem do protagonista à Índia, em busca de um amigo, acaba se tornando a procura falhada de si mesmo e recapitula alguns temas recorrentes das mitologias lusitana (a viagem ao Oriente) e pessoana (a perda da identidade). Nesse romance, encontramos o melhor de Tabucchi: relatos sem clímax e diálogos límpidos compondo parábolas sobre o estranhamento, que podem atingir andamento onírico ou mitológico Essas características podem ser percebidas também nos relatos de "Mulher de Porto Pim" (ambientado no arquipélago dos Açores) e nos contos de "O Tempo Envelhece Depressa" (o mais recente dentre seus vários livros publicados no Brasil). A onipresença de Portugal em sua literatura, contudo, não deve ser visto como um sinal de que Tabucchi é alheio à tradição da moderna literatura italiana. Nesse sentido, o texto "O Senhor Pirandello É Chamado ao Telefone", que integra a coletânea "I Dialoghi Mancatti" (diálogos malogrados), é exemplar. Nele, Fernando Pessoa liga para Pirandello de uma clínica psiquiátrica em Cascais, mas o telefonema frustrado o encerra num monólogo que aprofunda sua loucura (ou a representação da demência pelo "poeta fingidor"). OBSESSÕES Se lembrarmos que Pirandello é autor de "Seis Personagens à Procura de um Autor" e de "Um, Nenhum e Cem Mil" -em que também aparece o tema da fragmentação do sujeito, porém em chave irônico-satírica-, não é difícil ver nesse Pirandello o próprio Tabucchi, que dialoga com suas obsessões sem deixar de dialogar com a literatura italiana e de responder a questões de seu país. O melhor exemplo disso é o romance "Afirma Pereira", em que um velho jornalista lisboeta escreve obituários de escritores vivos durante o salazarismo português e é despertado de seu mórbido torpor por um jovem militante de origem italiana. Aqui, a ambiência lusitana diz muito sobre a cultura de morte do fascismo e traduz as atitudes políticas de Antonio Tabucchi -que, nos últimos tempos, foi um crítico feroz do neofacismo de Berlusconi. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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