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Líder islâmico repudia uso político do caso de atirador

Dalil Boubakeur teme 'empatia' com Mohamed Merah, morto pela polícia francesa

Reitor da Grande Mesquita de Paris diz preferir que Merah tivesse sido preso e condena o terrorismo

VICTORIA ÁLVARES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE PARIS

Um dos principais líderes muçulmanos da França, Dalil Boubakeur, 71, reitor da Grande Mesquita de Paris, disse temer que a morte de Mohamed Merah pela polícia gere um "sentimento de empatia" com o acusado de matar sete pessoas em Toulouse neste mês -entre elas, três crianças e um adulto em uma escola judaica da cidade.

O franco-argelino Merah, 23, foi morto na cidade do sul da França na quinta-feira passada, depois de mais de 32 horas de cerco policial, com um tiro na cabeça. Ele disse pertencer à Al Qaeda.

O reitor da Grande Mesquita afirmou ainda que a comunidade islâmica francesa repudia o terrorismo e quer evitar a exploração política do crime de Merah no pleito presidencial do país, em abril.

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Folha - O que o senhor pensa da forma como Mohamed Merah foi morto pela polícia?

Dalil Boubakeur - Como qualquer outra pessoa, nós da comunidade muçulmana queríamos que a justiça fosse feita e que o assassino respondesse por seus crimes.

Queríamos saber por que ele fez o que fez e por que falava em nome da nossa religião. Mas o fato de esse jovem ter sido morto pode nos causar muito mais problemas do que se ele tivesse sido capturado vivo. Isso me preocupa.

O que o senhor teme?

Pela extrema violência com que ele foi abatido, receio que alguns jovens criem um sentimento de empatia com Merah e queiram imitá-lo. O seu próprio irmão já esta dizendo "ter orgulho" das ações do mais novo.

Como o senhor imagina a personalidade de Merah?

A meu ver, era um jovem com problemas psicológicos e foi facilmente manipulado. Tinha muito rancor e um desejo enorme de vingança.

Temos medo de que essa seja a nova forma de manipulação da rede terrorista Al Qaeda e dos grupos islamistas radicais: aproveitar-se de indivíduos fragilizados para que eles próprios imaginem suas missões e as filmem. Em seguida, colocar esse material na internet a fim de estimular mais jovens.

Após a matança em Toulouse, o senhor acredita que pode haver um aumento da islamofobia na sociedade francesa?

Não acredito que um discurso islamofóbico seja justificado. Fazemos o máximo possível para denunciar o terrorismo e lutar contra ele. O terrorismo se opõe aos princípios do Corão; o islã respeita a vida. Um assassino não pode dizer que mata uma garotinha em nome do Corão.

Nosso maior medo é justamente que se faça uma generalização -que inocentes sejam vítimas de olhares hostis, que mesquitas sejam depredadas, que religiosos sejam agredidos. Que toda uma comunidade seja malvista por causa dos atos de um louco, que não representa nossa crença ou nossos valores.

Estamos a menos de um mês da eleição presidencial francesa. O senhor acredita que alguns candidatos podem usar politicamente a tragédia?

Claro. Enviei algumas perguntas à candidata da extrema direita, Marine Le Pen. Quero saber como ela pretende abordar esse assunto na sua campanha.

Ela e os demais candidatos sabem que milhares de muçulmanos lutaram e morreram pela França. Não é possível que agora todos se tornem vítimas de hostilidades e não se sintam em casa. A França é o país deles.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, fez paralelo entre os assassinatos na escola judaica e o destino dos palestinos de Gaza. Qual é a sua opinião sobre isso?

Partiu de uma boa intenção, mas foi infeliz. Não se pode comparar o que aconteceu na escola com os fatos de uma guerra -são ações de extrema violência, mas o contexto não é o mesmo.

Um ato terrorista num país como a França, que está em paz, não é a mesma coisa que outro numa região em guerra há mais de 60 anos.

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