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Banco dos Brics fica para cúpula de 2014

Criação do organismo seria primeiro passo concreto para demonstrar que há coordenação entre potências emergentes

Índia e África do Sul, que precisam de financiamento, têm carinho pela ideia; Brasil ainda hesita

Saurabh Das/Associated Press
Os líderes dos Brics Dilma, Medvedev (Rússia), Manmohan Singh (Índia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul)
Os líderes dos Brics Dilma, Medvedev (Rússia), Manmohan Singh (Índia), Hu Jintao (China) e Jacob Zuma (África do Sul)

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A NOVA DÉLI

Só na cúpula de 2014 é que deve estar pronto o estudo para a criação de um banco de desenvolvimento dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).

Seria o primeiro passo concreto para demonstrar que as cinco potências emergentes coordenam de fato suas ações em vez de deixar que suas diferentes prioridades transformem o grupo em uma espécie de grande "talk show".

O caso do banco, que seria o BNDES dos Brics, é ilustrativo das prioridades/percepções diferentes.

Índia e África do Sul têm o maior carinho pela ideia, para suprir suas necessidades de financiamento. O Brasil hesita. Já tem o seu próprio e portentoso BNDES e espera agora para ver quem aporta capital no novo banco e, por extensão, quem mandará na instituição.

A China, que também não precisa desse tipo de instrumento, já disse que quer presidir o banco, quando a Índia, proponente inicial, sugere presidência rotativa.

A cúpula de 2012, ontem encerrada, saiu pelo clássico método de criar um grupo de trabalho para estudar essas e outras características, com prazo até 2013 para apresentar um relatório. A Folha apurou, no entanto, que será apenas dentro de dois anos que um documento sólido poderá ser apresentado aos governantes.

Em todo caso, a reunião de Nova Déli produziu dois acordos, eminentemente técnicos, para facilitar comércio e créditos em moedas locais.

Aqui, de novo, há diferentes percepções: para a China trata-se de uma oportunidade de ouro para internacionalizar o yuan, sua moeda, que não é livremente conversível. Por isso, duas autoridades brasileiras presentes à cúpula perguntaram à Folha, separada mas coincidentemente: "O que vamos fazer com yuans?".

Diferentes realidades, de resto, impedem posições comuns em assuntos político-institucionais relevantes.

Exemplo claro contido no comunicado final da cúpula: China e Rússia, membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, não endossaram o desejo dos três outros Brics de chegar à mesma condição.

ONU

O texto final fala apenas que "China e Rússia reiteram a importância que conferem ao status de Brasil, Índia e África do Sul em assuntos internacionais e respaldam sua aspiração a um papel maior na ONU".

Aliás, os três candidatos tinham posições diferentes na ONU em torno da Síria: Rússia e China vetaram resolução de condenação à ditadura de Bashar Assad, apoiada pelos outros três.

Entende-se, por isso, que Dmitri Medvedev, o presidente russo, tenha cobrado ontem "um mecanismo Brics para coordenar ações em situações de emergência". Ou, em outras palavras, passar do "talk show" à ação.

Os Brics se unem quando se trata de ser contra a governança global nos termos em que foi definida pelo mundo ocidental rico. Exemplo: recusam-se a pingar dinheiro no FMI (Fundo Monetário Internacional), para ajudar a Europa a enfrentar a crise, enquanto suas cotas (e também os votos) na instituição não aumentarem.

FMI

Mas não foram capazes de escolher e/ou apoiar um candidato comum para comandar seja o Fundo seja o Banco Mundial, com o que se perpetuam o modelo contra o qual se insurgem e que vigora há seis décadas: um europeu (no caso, europeia) chefia o FMI e um norte-americano tende a substituir outro no Banco Mundial.

Os Brics juntam-se também para tentar trazer as crises para o âmbito exclusivo das Nações Unidas, uma outra maneira de opor-se ao unilateralismo norte-americano, o que, de resto, está no DNA do grupo: vetaram ontem a hipótese de intervenção militar na Síria e rejeitaram a pressão dos Estados Unidos para que não comprem petróleo iraniano.

Falta agora que, em vez de apenas se oporem à iniciativas alheias, apresentem suas próprias propostas para apagar incêndios.

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