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Oposição síria usará ajuda para se armar

Fundo de cerca de US$ 200 mi anunciado por países do Golfo será empregado na compra de "armas defensivas"

EUA e outros países dizem ser contra ideia, mas opositora afirma à Folha haver acordo sobre 'direito de defesa'

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

A ajuda financeira prometida à oposição síria por países árabes do Golfo será usada para armar os rebeldes contra o regime do ditador Bashar Assad.

A confirmação foi feita em entrevista à Folha por Bassma Kodmani, membro do comitê executivo do CNS (Conselho Nacional Sírio), o principal grupo de oposição.

O esforço em incrementar o poder de fogo dos rebeldes reflete a descrença da oposição e dos "Amigos da Síria" no plano de paz da ONU.

O enviado da ONU e da Liga Árabe à Síria, Kofi Annan, disse ontem que o regime Assad havia concordado com a data limite de 10 de abril para um cessar-fogo.

"Já vimos promessas serem feitas e descumpridas", desconsiderou a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, que se disse "cética".

Desde que aceitou o plano de Annan, há uma semana, o regime sírio intensificou a repressão, a uma média de 50 mortos por dia.

A ONU estima em 9.000 os civis mortos em um ano de revolta e vê sinais de crimes contra a humanidade. Ontem, ativistas da oposição disseram que 78 corpos com sinais de tortura foram achados num necrotério na cidade de Homs, alvo da maior ofensiva do regime até agora.

Na conferência dos "Amigos da Síria", que reuniu mais de 70 países no domingo, em Istambul, os opositores receberam promessas de ajuda financeira e logística à milícia rebelde ELS (Exército Livre da Síria).

Nada foi dito em público sobre armar a oposição. A ideia é defendida pelos sauditas, mas sofre resistência de vários países, incluindo os EUA.

Mesmo sem um plano explícito, Kodmani disse que os países aliados concordam com a necessidade de uma intervenção indireta.

"Há um acordo de que, já que não há uma intervenção externa, o povo sírio tem o direito de se defender", disse, por telefone, de Istambul.

Além da ajuda humanitária e do pagamento de salários de militares desertores, ela afirmou que o financiamento será usado para fortalecer a resistência armada ao regime Assad. "É para fornecer ajuda ao ELS, com armas defensivas, o que é aceito como uma necessidade hoje."

A maior parte do dinheiro virá da Arábia Saudita e de outros países do golfo Pérsico, que decidiram criar um fundo de ajuda à oposição.

A generosidade, calculada em US$ 200 milhões (R$ 360 milhões), explica-se em grande parte pelo interesse em enfraquecer o rival Irã, tirando do país persa seu único aliado no mundo árabe.

Kodmani disse que, se o plano de Annan falhar, o próximo passo será votar uma resolução no Conselho de Segurança da ONU para aplicar sanções à Síria.

Os opositores esperam que Rússia e China, que até agora bloquearam sanções na ONU, mudem de posição caso o regime não cumpra sua parte. Os dois países apoiaram a iniciativa de Annan.

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