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EUA combinaram sua 'neutralidade' com os britânicos

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Em 31 de março de 1982, dois dias antes de a Argentina invadir as Malvinas, o então secretário de Estado dos EUA, Alexander Haig, propôs ao colega britânico Peter Carrington uma tática: para ampliar sua influência sobre Buenos Aires, Washington aparentaria neutralidade na crise.

"Instruí meu embaixador em Buenos Aires a levar nossas preocupações ao chanceler argentino e a exortar seu governo a não tomar nenhuma medida que agrave a crise", escreveu Haig ao colega.

"Teremos mais chance de influenciar o comportamento argentino se aparentarmos, para eles, que não tomamos partido."

O telegrama, sigiloso, foi trazido a público pela primeira vez anteontem, véspera do 30º aniversário da invasão das Malvinas, pelo National Security Archive, em Washington.

Faz parte de uma coleção de 46 documentos obtidos via Lei da Liberdade de Informação que inclui ainda material detalhando a ajuda logística da CIA (agência de inteligência dos EUA) aos britânicos.

As descrições minuciosas das embarcações argentinas, entre outras coisas, mostram que o apoio foi bem além de palavras tranquilizadoras.

A Argentina, porém, não se deixou demover pelos americanos, também ciosos de desagradarem ao aliado latino; a invasão foi levada a cabo em 2 de abril.

Mas a tática de Haig foi seguida no início da guerra que deixaria 904 mortos (71% deles argentinos): os EUA se proclamaram neutros, apesar da intensa correspondência com os britânicos na qual prometiam ou relatavam tentativas de fazer a Argentina ceder.

Seis dias após a invasão, em encontro com a premiê Margaret Thatcher em Londres, Haig foi cobrado por ela para declarar apoio. Afirmou então estar certo de que a líder britânica sabia qual era a posição do presidente Ronald Reagan:

"Nós não somos imparciais", declarou. "Com certeza não somos imparciais na resolução, e o presidente não foi imparcial em sua ligação para [o então líder do regime argentino, Leopoldo] Galtieri."

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