Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Ex-reféns das Farc receberam fotos para lembrar de parentes

Imagens foram entregues aos recém-libertados para tentar amenizar impacto do reencontro com familiares

Reféns estavam com a guerrilha havia mais de uma década; um deles não reconheceu seu filho após 14 anos distante

DE SÃO PAULO
DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Em seus primeiros momentos de liberdade, os seis policiais e quatro militares que durante mais de uma década foram cativos das Farc (Forças Armadas Revolucionária da Colômbia) receberam, ainda na selva, um punhado de fotos dos familiares.

Era uma preparação para o reencontro com os parentes que aconteceria momentos depois em Villavicencio e mais tarde em Bogotá, explicou Jordi Raich, chefe da Cruz Vermelha na Colômbia.

Raich coordenou a operação que, com apoio do Brasil, transportou anteontem os últimos "reféns políticos" liberados unilateralmente pela guerrilha.

"Coletamos fotos atuais dos familiares, com quem já vínhamos trabalhando, dando apoio psicológico. Foi o primeiro que lhes demos, para que começassem a se preparar", contou ele à Folha.

Para Robinson Salcedo Guarín, sargento do Exército, a foto não foi suficiente. "Meu pai não me reconheceu", contou seu filho Yonathan, 18, ao jornal colombiano "El Tiempo". Ele tinha apenas quatro anos quando o militar foi capturado, em 1998.

Salcedo chamou atenção anteontem ao desembarcar do helicóptero Cougar, cedido pelo Exército brasileiro. Ele levava no ombro dois periquitos, um presente para Yonathan.

ACORRENTADOS

Raich, 48, disse que a operação teve momentos tensos. O protocolo de segurança, aceito pelas Farc, indicava que o helicóptero deveria decolar às 15h30 com os libertados, mas só às 16h10 apareceu a canoa que transportava os reféns.

"Temos um agradecimento enorme à tripulação brasileira pelo profissionalismo. Eles sabiam do protocolo, mas entenderam como era importante aquele momento", afirmou.

Os recém-liberados passaram ontem por revisão médica em Bogotá e foram visitados pelo presidente Juan Manuel Santos.

O mandatário colombiano reiterou que a liberação unilateral dos reféns não é suficiente para iniciar um diálogo de paz com as Farc, ativa desde os anos 60, e lembrou que ainda permanece na selva um número indeterminado de civis sequestrados.

No final do dia, os ex-reféns descreveriam à imprensa seus anos no cativeiro, grande parte deles acorrentados aos pares, e o medo que sentiam de serem atingidos por um bombardeio das forças de segurança.

Dois deles, o sargento José Libardo Forero e o intendente Jorge Trujillo, contaram que conseguiram escapar em 2009 e estiveram vagando por um mês na selva até serem recapturados.

Os guerrilheiros tiraram as roupas dos dois. "Disse: 'Não nos humilhem mais porque estamos cansados de humilhação. Se vão nos fuzilar, fuzilem!", contou Forero. "Mas a vontade de Deus quis que voltássemos [ao cativeiro]." (FLÁVIA MARREIRO)

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.