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Entrevista - Jim Yong Kim, 52

Nasci num país pobre e serei elo entre EUA e emergentes

Provável futuro presidente do banco mundial, médico coreano-americano elogia programa brasileiro anti-aids

ISABEL FLECK
ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA

O fato de ter sido levado com só cinco anos aos EUA -país onde cresceu e obteve cidadania depois- não fez com que Jim Yong Kim, 52, candidato americano à presidência do Banco Mundial, perdesse a identidade com o mundo em desenvolvimento.

É o que o virtual próximo presidente da instituição sustenta, após receber apoio de europeus e do Japão para o posto -que muitos defendem seja ocupado por um cidadão do mundo emergente.

Kim concorre com dois representantes de países em desenvolvimento: a ministra nigeriana das Finanças, Ngozi Okonjo-Iweala, e o ex-ministro das Finanças colombiano José Antonio Ocampo.

"Nasci na Coreia [do Sul], deixei o país enquanto ainda estava em uma situação de pobreza. Cresci nos EUA, mas conheço profundamente o que é viver na pobreza", disse em entrevista exclusiva à Folha, em Brasília, onde encerrou um tour por países emergentes e em desenvolvimento -mais o Japão.

Em campanha, o candidato evitou falar sobre temas espinhosos, como o impacto do protecionismo das grandes economias e regulamentação do mercado financeiro.

Folha - É grande a pressão para que o próximo presidente do Banco Mundial seja dos países emergentes e em desenvolvimento. O sr. acredita que representa este grupo?
Jim Yong Kim - Eu nasci na Coreia [do Sul], d eixei o país enquanto ele ainda estava numa situação de pobreza, e os meus pais eram refugiados -meu pai, da Coreia do Norte, e minha mãe, da guerra.
Cresci nos EUA, mas conheço profundamente o que é viver na pobreza. Trabalhei grande parte da vida em países em desenvolvimento na América Latina -Peru, México- e também na África. Minha trajetória pode ser uma ponte entre EUA, Europa, emergentes e os países em desenvolvimento na África.

Os outros dois candidatos têm mais experiência em economia e finanças, temas essenciais para o Banco Mundial. Como um médico pode ser uma melhor opção?
As questões principais do Banco Mundial são desenvolvimento econômico e redução da pobreza. Então estou muito qualificado, porque a maior parte da minha vida trabalhei com isso -não só com saúde, mas desenvolvimento social, educação, moradia, igualdade de gênero.

No livro "Dying for Growth" (2000), o sr. diz que o estímulo ao crescimento econômico ajudou a aumentar a pobreza no mundo. Como o sr. vê essa relação hoje?
O livro foi escrito com base em dados do início dos anos 90, e seu argumento específico é que o crescimento pode ocorrer de uma forma mais inclusiva. Naquele tempo, havia políticas que previam a diminuição de gastos em saúde e em outras áreas sociais.
Mas nos anos 90 o banco mudou sua política de forma muito significativa. Hoje há um consenso global de que precisamos achar maneiras de crescer com inclusão.

Como a experiência brasileira pode ajudar?
Quando fui assessor do diretor-geral da OMS, nós observávamos a experiência brasileira de inclusão social no programa de HIV-Aids. Era exatamente o que precisávamos na África.
No caso do banco, o que acho importante é que se continue procurando grandes inovações, e o Brasil tem fortes exemplos de como obter crescimento com inclusão social. E o Banco Mundial pode fazer esse importante trabalho de apresentar o trabalho feito no Brasil e em outros países em desenvolvimento ao resto do mundo.

Algum programa específico pode servir a outros países?
O que eu conheço mais é o programa de HIV-Aids. Foi um caso clássico em que muitas pessoas não queriam esse tipo de investimento, e o Brasil fez e foi um exemplo para o resto do mundo.

Quais foram as principais demandas que ouviu do Brasil?
Estive antes na Índia e na China e acho que as economias emergentes querem mais voz no Banco Mundial. O que ouvi -do Brasil, especialmente- é uma vontade de ter papel ainda mais forte no banco. Isso poderia ocorrer de muitas formas, mas seria prematuro dar detalhes.

Os Brics querem criar seu próprio banco de desenvolvimento. Ele poderia ser uma ameaça ao Banco Mundial?
O Banco Mundial já tem um bom histórico de trabalho com outros bancos de desenvolvimento. Se o banco dos Brics for criado, acredito que o Banco Mundial trabalhará muito próximo a ele.

Qual deve ser o papel do Banco Mundial com o avanço dos emergentes?
O Banco Mundial ainda tem um papel extremamente importante. Na minha viagem, percebi três coisas com que espero trabalhar: primeiro, empregos. Todo país tem problema com isso, e o banco tem um papel fundamental na geração de empregos.
Outro ponto é a igualdade de gênero, e o Banco Mundial ajudar a melhorar a saúde materna, por exemplo, que é um problema de infraestrutura também.
Por último, ouvi muito sobre a importância da modernização do banco. Tive a experiência de uma reestruturação profunda no Dartmouth College [onde é reitor] durante a crise. Então tenho alguma experiência em reforma institucional.

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