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Dilma chega aos EUA para 'manutenção da parceria'

Reunião com Obama, amanhã, evitará temas sobre os quais há divergência

Agenda bilateral inclui educação, comércio e energia; americanos só se importam hoje com eleição, diz especialista

LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Dilma Rousseff desembarca hoje nos EUA para seu terceiro encontro como presidente com Barack Obama com expectativas deflacionadas, em uma visita oficial que servirá para a manutenção de uma parceria bem azeitada, mas sem calor.

Na agenda principal estão educação, comércio e energia -bandeiras para os dois presidentes na hora de mostrar seu bom entendimento.

Inevitável em tempos de ascensão brasileira no palco geopolítico, a menção genérica "assuntos globais" também deve estar na declaração final dos dois líderes.

Mas temas em que os dois governos divergem ficarão em segundo plano nas três horas de conversa "franca e transparente", na acepção do Itamaraty, e "ampla em todos os níveis", na de Washington, que os dois manterão amanhã, entremeada por almoço de trabalho na Casa Branca.

"A eleição é a única coisa que importa nos EUA neste momento", disse à Folha o brasilianista Peter Hakim, do Inter-American Dialogue, lembrando o pleito presidencial em novembro.

Apesar de o Brasil ser tema corrente na mídia e de seu momento econômico atrair interesse da população, a visita -que não deixa de ser a apresentação da sucessora mais discreta de Luiz Inácio Lula da Silva ao público americano- foi precedida de silêncio na imprensa local.

O silêncio é incomum nos EUA quando o convidado governa um Bric; além disso, a personalidade mais discreta de Dilma alimenta perguntas e expectativas sobre o rumo da política externa brasileira.

Há uma razão boa para o baixo impacto da visita, porém: a relação bilateral chega à maturidade, avaliam os dois lados, o que faz com que em prol do pragmatismo as arestas sejam ignoradas.

Por isso, segundo analistas e pessoas envolvidas nos preparativos, Dilma e Obama puseram no topo da agenda uma dupla iniciativa voltada para o médio e longo prazo, o programa brasileiro "Ciência Sem Fronteira" e o americano "100.000 Strong", para intercâmbio universitário.

No segundo dia da viagem, Dilma visitará duas das principais universidades americanas, Harvard e MIT, ambas em Cambridge.

O comércio -a Casa Branca gosta de ressaltar que, embora os EUA tenham perdido para a China o posto de parceiro maior do Brasil, a corrente nunca esteve em nível tão alto- é outra prioridade.

O Brasil lida com déficit crescente com os EUA (US$ 8,1 bilhões), mas nunca suas empresas e seus turistas foram tão ativos e cobiçados.

O evento da Câmara de Comércio americana no qual Dilma discursará lotou logo, e os dois presidentes se reunirão, como no Brasil, com os dirigentes das principais empresas nos dois países.

Todo esse progresso não esconde, entretanto, o fato de o Brasil não ter alcançado na Casa Branca o status de seus colegas de Bric -a eterna antagonista Rússia, a aliada estratégica Índia e a credora simbiótica China.

Dilma deve voltar a pressionar Obama por apoio a um assento permanente para o Brasil no Conselho de Segurança da ONU e por mais voz no FMI e no Banco Mundial.

Na visita dele ao Brasil em 2011, ela ganhou uma inédita declaração de "apreço" pela aspiração, mas, embora a diplomacia brasileira aposte na evolução do termo (e a Casa Branca avalie), um endosso claro seria surpresa.

Além da reafirmação de parcerias que ainda têm de mostrar resultado, Dilma não deve obter nos EUA algo muito além do reconhecimento americano, após longa negociação comercial, de que a cachaça é produto do Brasil, e não um subtipo de rum.

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