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Primavera Árabe afugenta turistas no Norte da África

Dados da Organização Mundial do Turismo mostram queda de visitação, contrariando a tendência global

Redução na zona que abrange o Egito, onde turistas brasileiras foram sequestradas em março, chegou a 8%

DE SÃO PAULO

A Primavera Árabe, que destronou os ditadores de Tunísia, Egito, Líbia e Iêmen, espantou também milhares de turistas de toda a região com notícias de insegurança.

Os dois únicos blocos que apresentaram queda no número de visitas na comparação entre 2011 e 2010, segundo a Organização Mundial do Turismo, foram o Oriente Médio e o Norte da África.

No Oriente Médio, o turismo religioso leva fiéis a lugares como o Sinai -península egípcia onde duas turistas brasileiras foram mantidas reféns por cerca de nove horas, no mês passado.

Nessa região, em 2010, o turismo havia crescido 15%. Em 2011, caiu 8%. O Norte da África havia tido alta de 6% para, então, despencar 12%.

A tendência mundial, para comparação, cresceu 4,4% nesse mesmo período. Israel, incluído na categoria "Europa do sul/mediterrânea", estagnou com alta de 0,6%.

John Kester, do Departamento de Tendências da Organização Mundial do Turismo, diz que os números não refletem o risco real, mas a percepção que os viajantes têm do perigo.

"O maior risco em uma viagem é se envolver em acidentes de trânsito ou comer comida estragada. Mas as pessoas preferem países em que se sentem seguros", afirma.

Kester diz que o episódio das brasileiras no Sinai é um incidente isolado. "O Egito é um destino bastante seguro."

Leonel Rossi, vice-presidente de relações internacionais da Associação Brasileira de Agências de Viagens, tem conclusão semelhante.

"Nos primeiros momentos, há diminuição no turismo. Mas logo passa", diz Rossi. "O mundo inteiro é perigoso. Você pode ser vítima de atentados terroristas em Nova York, Madri, Londres", exemplifica.

Não há estimativas específicas sobre turismo religioso -em parte, por não haver consenso sobre a definição da prática. Mas Rossi estima que o setor cresça no mesmo ritmo do turismo regular.

Para Michael Metti, da Universidade de Estocolmo, é uma questão de marketing. Ele desenvolve pesquisa sobre "holy brands" (marcas sagradas). "O sagrado pode ser uma vantagem competitiva. A sacralidade de Jerusalém atraiu peregrinos por milhares de anos, injetando dinheiro na economia."

DESTINOS SAGRADOS

Além dos pacotes das agências de turismo tradicionais, há empresas especializadas em organizar viagens aos destinos descritos nos livros sagrados como Bíblia e Corão.

É o caso da Terra Santa Viagens, em que excursões ao Egito representam 75% do volume do negócio. Há 40 caravanas programadas para 2012.

É um turismo com cliente bastante específico. "Grande parte deles não tem condição de fazer essa viagem duas vezes na vida", diz a diretora Anna Carolina Caro. São turistas que viajam em grupo, em geral acompanhados de um padre ou um pastor.

Reni Magliozzi, gestora da Marktur, afirma que há predomínio de mulheres, enquanto Nely Alves, da Tabor, diz que 80% são idosos. "Eles têm esse sonho."

"Chorei muito quando entrei em Jerusalém", conta a missionária Mara Fodor, 62. Ela fez o roteiro duas vezes: uma com um grupo evangélico, outra com um católico.

Apesar de celebrar a viagem, Fodor diz que não volta à região "nem se ganhar uma passagem". "Tive medo", conta -durante sua passagem por Israel, houve um atentado terrorista no país. (DIOGO BERCITO)

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