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Bicho-papão

Irã quer proibir atividades de canto e dança em jardins de infância por considerá-las 'imorais'; pais e escola resistem

Divulgação
Alunos de um jardim de infância em Teerã interpretam canção durante atividade escolar
Alunos de um jardim de infância em Teerã interpretam canção durante atividade escolar

SAMY ADGHIRNI
DE TEERÃ

O governo do Irã quer proibir os jardins de infância do país de promover aulas de canto e dança sob a justificativa de que essas práticas são "imorais".

A decisão, que foi anunciada pelo diretor-geral de Bem-Estar da província de Teerã, Valiollah Nasr, reflete o atual acirramento das restrições morais impostas à sociedade iraniana.

"Infelizmente, nos últimos anos os jardins de infância vêm ensinando crianças a cantar e dançar, mas eles serão tratados severamente se continuarem fazendo isso", afirmou Nasr em recente entrevista à agência de notícias Fars, ligada ao regime.

O diretor-geral disse que o governo já começou a enviar aos jardins de infância -tanto públicos quanto privados- uma cartilha com regras que devem ser seguidas para um ensino de acordo com "valores islâmicos" que ele não especificou.

"Os programas predefinidos [fazem com que] não haja mais desculpas para ensinar às crianças coisas imorais", afirmou Nasr.

O veto aparentemente se aplica a todas as formas de música, não somente a canções ocidentais.

Dona de um jardim de infância privado numa área nobre de Teerã, S.M, 54, diz que ainda não recebeu nenhuma correspondência oficial sobre o assunto.

Ela afirma que as crianças inscritas em seu estabelecimento bilíngue farsi-inglês, com idade entre um e seis anos, continuarão praticando dança e canto apesar das novas regras.

"O governo não pode controlar tudo. Se vierem os fiscais, fingiremos não fazer nada de errado. E, se tiver que pagar multa, então pagaremos e retomaremos nossas atividades assim que virarem as costas", disse M.

CONTROLE

Ela questiona: "Onde já se viu impedir crianças de se divertir com música?" M. não quis ter seu nome revelado, a exemplo das demais entrevistadas.

A escolinha da empresária tem instalações e brinquedos modernos. Nas paredes, há desenhos do ursinho Puff e do Mickey, mas, nas prateleiras, a maioria dos livros são em farsi, idioma local.

Segundo ela, as autoridades tentam controlar até o valor da mensalidade. "Tenho de cobrar o triplo do que o governo estipula, senão fica difícil pagar os funcionários."

Mães de alunos ouvidas pela reportagem se disseram indignadas com o veto à música. "Isso é uma grande besteira. Querem impedir as crianças de ser felizes", afirma K.J, 33.

T.T, 25, dona de casa e mulher de um técnico de futebol, também contesta a medida, mesmo se dizendo "crente". Ela afirma que "o governo só quer saber de bandeiras pretas, martírio e morte".

RIGOR MORAL

Muitos iranianos, porém, simpatizam com o rigor moral do regime. Prevalece em diversos meios sociais a visão de que o Irã deve se proteger contra a influência cultural do Ocidente, que é considerada permissiva e corrupta.

O Irã alternou desde a Revolução Islâmica de 1979 períodos repressores e mais liberais.

No entanto, desde que o conservador Mahmoud Ahmadinejad chegou à Presidência, em 2005, o regime vem apertando o cerco contra liberdades.

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