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Regime promete liberar viagens de cubanos

Presidente da Assembleia afirma que mudança nas regras que vigoram há 50 anos ocorrerá nos 'próximos meses'

Cidadãos necessitam hoje de 'autorização de saída' para deixar a ilha e regime nega visto a críticos e dissidentes

FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO

O presidente da Assembleia Nacional de Cuba, Ricardo Alarcón, anunciou que o governo comunista implementará uma "reforma migratória radical e profunda nos próximos meses".

Se efetivadas, as mudanças derrubarão ou relaxarão restrições em vigor há cinco décadas que obrigam cubanos na ilha a pedir ao governo uma "autorização de viagem ao exterior", e os emigrados a obter permissão para visitar o país.

A declaração do veterano do regime foi feita ao acadêmico e jornalista francês Salim Lamrani e publicada ontem no site esquerdista "Rebelion.org". A primeira parte da entrevista, sem a menção do tema migratório, foi reproduzida em site oficial do regime ( "Cubadebate.cu").

Não é a primeira vez que o governo cubano acena com mudanças nas regras. O ditador Raúl Castro já mencionou planos de relaxar as restrições, mas frustrou os que esperavam as mudanças para dezembro passado.

O próprio Raúl, porém, reavivou o tema durante a visita do papa Bento 16 a Cuba. "Reconhecemos a contribuição patriótica da emigração cubana", disse ele.

Raúl, contudo, condenou a "manipulação dos temas migratórios com fins políticos" aplicada por Washington, que desde 1966 tem regras migratórias especiais para Cuba. Alarcón fez o mesmo.

Todo cubano que chega em terra firme americana -legal ou ilegalmente- e pede cidadania dos EUA a recebe. Os formados em áreas médicas, trabalhando em terceiros países como a Venezuela, também têm vantagens.

O discurso de Alarcón explicita uma intenção do regime: atrair uma migração "não ideológica" recente, que fez dinheiro fora da ilha, especialmente em Miami, e que teria interesse em injetar capital em Cuba no momento em que o país implementa reformas econômicas.

Atualmente, esses cubanos que visitam a ilha possuem visto de turista de 30 dias, renovável por mais 30 dias.

Daí a desconfiança da blogueira crítica do regime, Yoani Sánchez, quanto ao alcance das promessas.

"Pergunto se a reforma será para todos. Terá filtros ideológicos?", escreveu ontem em sua conta no Twitter.

Sánchez já teve o pedido de saída negado diversas vezes pelo regime. A última foi em fevereiro, quando tentou vir ao Brasil.

"É retórica do regime. Os cubanos só terão liberdade de ir e vir quando tiverem uma democracia", disse à Folha Mauricio Claver-Carone, advogado anti-Castrista com escritório em Washington.

Analistas céticos sobre a reforma apostam numa abertura parcial, dado o temor de Cuba de perder a população jovem e qualificada. O número de habitantes da ilha vem caindo nos últimos anos.

Em entrevista recente, o economista da Universidade de Havana, Pavel Vidal, disse que a liberalização será positiva, pois quem podia migrar já o fez, e a reforma traria os aposentados que "gostariam de terminar seus dias em Cuba".

"Criaria uma situação social delicada: os mais velhos que ficaram teriam de receber os que se foram -os triunfadores-, enquanto eles que ficaram, que se sacrificaram, pareceriam, décadas depois, ter tomado a decisão equivocada", disse Vidal.

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