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Argentina nacionaliza empresa de petróleo

Cristina Kirchner retira controle de acionistas espanhóis da YPF por decreto e faz projeto de lei que expropria suas ações

Presidente afirma que o objetivo é 'recuperar soberania' no setor e pede 'compromisso com o país' a empresários

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, editou ontem decreto de "necessidade e urgência" por meio do qual o Estado tomou o controle da petroleira YPF/Repsol.

Simultaneamente, Cristina enviou ao Congresso projeto de lei para expropriar os 51% da petroleira pertencentes aos acionistas espanhóis.

O restante das ações seguirá nas mãos da família Eskenazi, ex-aliada do governo que detém a porção argentina da empresa (25,4%), e de acionistas minoritários.

A presidente disse que "os fundamentos claros e precisos" para a expropriação estão explicados no projeto, cujo objetivo é garantir "a recuperação da soberania hidrocarbônica da Argentina".

A maioria kirchnerista no Congresso deve garantir ao governo aprovação tranquila do projeto de lei.

INTERVENTORES

Cristina designou como interventores na petroleira o ministro do Planejamento, Julio De Vido, e o vice-ministro da Economia, Axel Kicilloff.

Os representantes espanhóis da YPF foram obrigados a arrumar suas coisas e a deixar a sede da companhia.

O argumento do governo para a expropriação da YPF é o de que a empresa não vinha fazendo os investimentos necessários para suprir o aumento da demanda.

"Isso é uma política de Estado, que deve unir todos os argentinos", disse Cristina. Dirigindo-se aos "trabalhadores da YPF", ela pediu que "em seus postos de luta ajudem a reconstruir essa grande empresa".

Haverá pagamento à Repsol pela desapropriação, mas o valor ainda não foi estabelecido. Das ações expropriadas, o governo nacional ficará com 51% e o restante, a cargo dos governos das províncias (Estados).

O Estado nacional controlará 26,01% do total da companhia e as províncias produtoras de petróleo, 24,99%.

Após o anúncio, as ações da YPF despencaram mais de 10% na Bolsa de Nova York, que suspendeu a negociação dos papéis. A Bolsa de Buenos Aires fez o mesmo.

O governo espanhol classificou a atitude como uma "agressão" e anunciou que tomará medidas de represália (leia texto ao lado).

Quando apresentou um gráfico sobre a queda das reservas de petróleo da YPF, Cristina comparou a curva à tromba de um elefante, numa referência indireta e irônica ao rei da Espanha, Juan Carlos, que se acidentou no fim de semana, enquanto caçava elefantes na África.

No discurso em cadeia de TV no qual anunciou a expropriação, Cristina afirmou que as empresas que operam na Argentina são argentinas e alertou os "empresários argentinos" de que devem "entender a necessidade de comprometer-se com os interesses do país".

Para o economista Marcelo Elizondo, o principal efeito negativo da lei será na imagem do país para os investidores externos.

"Já estávamos isolados. Com essa medida, nossa reputação diante dos países da União Europeia cai lá embaixo. Não haverá investidor que aguente", afirma.

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