Índice geral Mundo
Mundo
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Matias Spektor

Saída inteligente

Sobram argumentos para justificar esforço redobrado de Brasília no desenho de estratégia para sair do Haiti

Depois de sete anos no Haiti, o Brasil está de saída. A intervenção deixa duas contribuições principais: um governo eleito democraticamente e um sistema que ajudou a mitigar o impacto, nos últimos dois anos, de um terremoto devastador.

O êxito é tênue. Metade da população ainda vive na pobreza extrema, uma proporção ainda maior está desempregada e o novo governo avança sobre uma corda bamba.

Muitos haitianos questionam a presença de tropas estrangeiras no país e há dúvidas a respeito da eficácia de alguns dos organismos internacionais e ONGs estrangeiras que lá operam.

Não há muito mais que o Brasil possa fazer por lá. Brasília simplesmente não tem como garantir estabilidade política, democracia ou inclusão social.

Essa é uma tarefa que apenas o governo haitiano pode levar a cabo.

Hoje, existe o risco de que a saída brasileira seja feita de forma burocrática. Nesse modelo, as tropas voltariam para casa a conta-gotas, e o país tentaria levar programas de capacitação e treinamento para as autoridades locais haitianas.

Uma saída inteligente, contudo, levaria em conta três imperativos.

O primeiro, de cunho moral, é facilitar a redução da pobreza no Haiti. Não se trata de generosidade, mas de assumir a responsabilidade de quem comandou uma intervenção estrangeira na nação mais pobre da região.

O projeto para fazê-lo já existe: o Brasil abriria seu mercado consumidor para produtos têxteis fabricados no Haiti, um setor que demanda baixo investimento, mas emprega mão de obra intensiva.

Como os Estados Unidos já têm uma iniciativa similar, as empresas de capital brasileiro lá instaladas teriam acesso franqueado ao mercado americano.

A ideia tem apoio em Porto Príncipe, em Washington e também em São Paulo.

Mas ainda falta Brasília deixar de travá-la.

O segundo imperativo brasileiro na hora de sair do Haiti é tirar lições dos últimos sete anos. É necessário estudar em detalhe o que funcionou bem e o que funcionou mal.

Em parte, trata-se de prestar contas das centenas de milhões de reais que foram gastos naquela operação. Em parte, trata-se de cuidar do futuro da política externa.

A experiência no Haiti foi a primeira intervenção estrangeira do Brasil emergente.

Não há dúvida de que outras virão porque o mundo ficou mais intervencionista e os países que não participam da tendência perdem o direito de moldar as novas regras do jogo.

No sábado passado, o Brasil aprovou, junto à Comunidade de Países de Língua Portuguesa, o pedido de uma "força de interposição" para reverter um golpe de Estado na Guiné-Bissau.

Dois dias mais tarde, Hillary Clinton disse que "seria muito difícil imaginar um Conselho de Segurança da ONU, no futuro, que não inclua um país como o Brasil".

O Haiti não é vital para os interesses brasileiros nem ameaça a estabilidade internacional.

Mas sobram argumentos bons para justificar um esforço redobrado de Brasília na hora de desenhar uma estratégia inteligente e responsável para sair de lá.

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.