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Facções egípcias tomam praça em manifestação contra os militares

Elas temem por manobra que ponha em risco transição após as eleições presidenciais de maio

Últimas semanas foram cheias de reviravoltas na disputa eleitoral; nomes de 13 candidatos estão confirmados

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Unidos pela suspeita de que a junta militar do Egito tenta sabotar a transição, milhares de pessoas de diferentes crenças políticas protestaram ontem no Cairo, numa expressão da ansiedade que cerca a eleição presidencial do próximo mês.

Teorias conspiratórias são esporte nacional no Egito, e a sucessão de guinadas políticas das últimas semanas transformou a reta final da campanha em terreno ainda mais fértil para os rumores.

Marcada para 23 e 24 de maio, a eleição presidencial será a primeira desde a revolta que derrubou o ex-ditador Hosni Mubarak, há pouco mais de um ano.

Mas o pleito, que deveria concluir a transição no país mais populoso do mundo árabe, está sendo visto por muitos como uma manobra dos militares para preservar a velha ordem.

Epicentro dos protestos que derrubaram Mubarak, a praça Tahrir pela primeira vez em muito tempo reuniu ontem islamitas e liberais, unidos pela exigência de que os generais deixem o poder.

"Abaixo a junta militar", era o grito comum, mas que não ocultou a dissonância entre grupos de ideologias rivais, emitida dos dez palcos montados na praça.

A desconfiança aumentou há duas semanas, quando o ex-chefe de inteligência e braço direito de Mubarak, Omar Suleiman, saiu das sombras e anunciou sua candidatura à Presidência.

Apesar de as pesquisas indicarem apoio mínimo a Suleiman, seu retorno provocou indignação e temor de que os militares estivessem por trás da candidatura.

Outra surpresa foi o lançamento do candidato presidencial da Irmandade Muçulmana, o grupo político mais poderoso do país.

Desde que saiu da ilegalidade dos tempos de Mubarak, o grupo dizia que não almejaria a Presidência, para afastar os temores de que iria aproveitar o vácuo de poder para controlar o Egito.

O escolhido para ser o candidato do Liberdade e Justiça, o partido da Irmandade, foi Khairat Shater, um dos principais estrategistas e financiadores do grupo.

Na última semana, nova reviravolta: o comitê eleitoral desqualificou dez candidaturas, entre elas as de Suleiman, Shater e do líder islâmico ultraconservador Hazem Salah abu Ismail.

Suleiman foi eliminado por não ter 30 mil assinaturas de apoio, o mínimo para se candidatar; Shater por crimes da época de Mubarak; e Abu Ismail porque sua mãe tem passaporte americano.

Imediatamente surgiu uma nova teoria conspiratória: a Junta Militar estava por trás das eliminações para afastar os islamitas e sacrificou Suleiman na manobra.

Restaram 13 candidatos. A Irmandade Muçulmana nomeou novo candidato, mas quem lidera as pesquisas é Amr Moussa, que se dá bem com os militares.

Antigo chanceler de Mubarak e ex-secretário-geral da Liga Árabe, ele leva a vantagem de circular bem em todos os lados da polarizada política egípcia.

Logo atrás vem Abdel Fotouh, tido como islamita mais liberal, que foi expulso da Irmandade Muçulmana por divergências políticas.

Sem chances na disputa eleitoral, grupos jovens que lideraram a revolta de 2011 acusaram militares e islamitas de bloquear a transição.

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