Índice geral Mundo
Mundo
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

França vota hoje contra a austeridade

Todos os quatro principais candidatos já anunciaram que são contra combater a crise só com disciplina fiscal

O socialista François Hollande e o presidente Nicolas Sarkozy devem passar para o segundo turno da disputa

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

A França votará hoje maciçamente contra a austeridade fiscal, se entendida como único recurso para enfrentar a crise econômica.

Todos os quatro principais candidatos já anunciaram que são contra reduzir o combate à crise à disciplina nas contas públicas.

Até mesmo o presidente-candidato Nicolas Sarkozy, apesar de ter subscrito o pacto pelo qual todos os países europeus devem inscrever em suas Constituições o deficit zero até 2016.

Nos extremos, dois concorrentes rejeitam frontalmente esse tipo de política. Marine Le Pen (extrema direita) recusa até o euro e quer voltar ao franco. Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda) promete voltar a nacionalizar empresas, aumentar o salário-mínimo e adotar políticas francamente de esquerda, longe da austeridade.

É verdade que os dois que devem passar ao segundo turno -o socialista François Hollande e o presidente Nicolas Sarkozy- são menos radicais. Hollande reconhece o valor da disciplina fiscal, mas quer que a ela se acrescente um conjunto de políticas pró-crescimento. Sarkozy surfou esta semana na onda, ao dizer que o papel do Banco Central Europeu deveria ser alterado para incluir políticas pró-crescimento, além do controle da inflação (sua única meta atualmente).

Dá para dizer, portanto, que o eleitorado escolherá entre crescimento, além de austeridade, ou crescimento (e, por extensão, emprego) em vez de austeridade.

Para os mercados, essa nuance conta pouco ou nada: qualquer menção a mexer no acordo soa como heresia a ser severamente punida.

O governo já acenou com o caos na primeira esquina: se Hollande ganhar as eleições -como dizem todas as pesquisas sobre o segundo turno-, "no minuto seguinte, regressarão os ataques especulativos contra a França", cantou o primeiro-ministro François Fillon. Paradoxalmente, coincidiu com Fillon o seu oposto à esquerda, Jean-Luc Mélenchon, para quem "uma prova de força se anuncia para o dia seguinte à eleição. O sistema financeiro está decidido a atacar".

Mélenchon acha que o ataque ocorrerá "seja quem for o próximo presidente".

Não é uma previsão alucinada, a julgar pela avaliação que faz Anne-Marie Le Gloannec, pesquisadora sênior do Centro de Estudos e Pesquisas Internacionais da Sciences Po, uma das mais lustrosas grifes da academia parisiense: "Depois da Espanha e da Itália, a França é de fato o próximo elo fraco na Europa. É o elo fraco mais importante, não apenas porque é a segunda maior economia na União Europeia, mas porque tem sido, até agora, o principal parceiro da Alemanha. Se a França fraquejar e entrar em colapso, rasgaria a parceria na qual toda a eurozona tem se apoiado".

Hollande é cobrado, mais ou menos discretamente, para recuar de sua proposta de acrescentar crescimento ao pacto de austeridade e para antecipar de 2017 para 2016 o equilíbrio fiscal francês, tal como combinado pelos líderes europeus e tal como promete Sarkozy (embora poucos analistas acreditem que um ou o outro cumpra a meta, até porque faz 38 anos que a França não tem um orçamento equilibrado).

CARTA ABERTA

Mas o candidato socialista é também cobrado, pela esquerda, para enterrar a austeridade. Carta aberta de cinco economistas de esquerda publicada no site da revista "Marianne" diz que "as políticas de austeridade nos conduzem à catástrofe". E pergunta: "Você quer ser o George Papandreu francês?", em alusão ao primeiro-ministro grego (também socialista), defenestrado depois de aceitar o pacote de austeridade imposto pela União Europeia/Fundo Monetário Internacional/Banco Central Europeu.

Pôr a Grécia no cenário eleitoral francês mostra bem a tensão ambiental.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.