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Autossuficiência de energia é desafio para a Argentina

Analistas apontam que ambição do país não depende de nacionalização de petrolíferas; outros fatores pesam

Presidente Cristina Kirchner quer expropriar a Repsol, mas governo terá de investir e revisar lei

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Especialistas ouvidos pela Folha concordam com a ideia de que a autossuficiência em energia, tão sonhada pelo governo argentino, é um problema que ultrapassa a questão da propriedade de sua principal petroleira.

Na semana passada, com o argumento de que a YPF não estava fazendo investimentos suficientes para garantir o abastecimento do país, a presidente Cristina Kirchner enviou ao Congresso um projeto de lei para expropriar 51% da empresa, pertencentes à espanhola Repsol.

A Argentina vive uma situação delicada no que diz respeito à energia. Em 2007, o país exportava US$ 7 bilhões e importava US$ 3 bilhões. Em 2011, passou a exportar US$ 6,1 bi e importar US$ 9,4 bi. Já a projeção para 2012 é exportar US$ 6,1 bi e importar US$ 13,3 bi.

A queda na produção de petróleo, que foi de mais de 30% nos últimos dez anos, ajudou a causar esse deficit. Para os entrevistados pela Folha, equilibrar essa balança não será tarefa fácil.

"Ainda que o governo consiga o dinheiro para investir o que falta, não deixa de ser uma tentativa de alto risco e que depende de outros fatores para ter sucesso", disse à Folha Victor Bronstein, especialista em energia e professor da Universidade de Buenos Aires.

Em primeiro lugar, adverte, há uma limitação que é da natureza. "Não somos um país petroleiro, temos petróleo, mas nunca foi muito comparado a outros. É preciso perfurar mais e encontrar mais."

Em segundo, os especialistas apontam para a questão da variedade. A Argentina depende muito do petróleo (51% do consumo) e do gás (40%) e pouco de outras fontes de energia.

No resto do mundo, a dependência desses dois produtos, em média, não supe-ra os 57%.

Em terceiro, está a questão da legislação. A atual lei do petróleo argentino é da época da ditadura do general Juan Carlos Onganía (1966-1970) e está defasada.

"É preciso estabelecer uma nova agência nacional, fazer com que contratos tenham estabilidade jurídica para atravessar governos e estabelecer regras para exploração no mar. Tudo isso é falho na atual legislação", diz Alieto Guadagni, professor da Universidade Torcuato di Tella e ex-secretário de Indústria, Comércio e Mineração.

Por fim, vem a questão do dinheiro a ser investido. A estimativa da maioria dos especialistas é que, hoje, seriam necessários aportes anuais entre US$ 6 bilhões e US$ 10 bilhões para que a produção de petróleo voltasse a aumentar a contento.

Para isso, o governo argentino deve buscar parceiros. "O fundamental agora será estabelecer bons acordos. Só que o fato de termos expropriado a empresa pode ser ruim para nossa imagem e, justamente, espantar esses parceiros", diz o economista Nicolás Dujovne.

Entre os possíveis sócios estão, principalmente, os chineses da Sinopec e os norte-americanos da Exxon e da Chevron. Além da brasileira Petrobras.

Para a consultora Milagros Gismondi, do escritório Orlando Ferreres, a expropriação precisa ser acompanhada de uma política de revisão dos subsídios na Argentina. A economista crê que o sistema de benefícios oferecidos a empresas para baratear o custo de combustíveis, energia e transporte, por exemplo, chegou a seu limite.

"Eles foram adotados num momento específico, o da recuperação econômica pós-crise de 2001, hoje são anacrônicos e fazem com que caia qualquer investimento nessas áreas", afirmou.

Segundo ela, enquanto isso, a demanda cresceu devido ao consumo de aparelhos eletrônicos e da vida nas cidades, em geral.

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