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Laços Brasil-Cuba enfrentam risco de sanção da Flórida

Construtora brasileira Odebrecht lidera maior obra de infraestrutura da ilha, mas investiu US$ 800 mi nos EUA

Legislativo de Miami aprovou lei que veta negócios com parceiros de Havana; aval final será do governador

FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO
VERENA FORNETTI
DE NOVA YORK

O lobby anticastrista de Miami tem dois novos alvos: o técnico de beisebol do Miami Marlins, Ozzie Guillen, que elogiou Fidel Castro num entrevista e a construtora brasileira Odebrecht, que toca em Cuba a maior obra de infraestrutura da ilha em 50 anos, o porto de Mariel.

O técnico se desculpou e recebeu a penitência: suspensão por cinco jogos.

Para a construtora, porém, os danos podem ser bilionários, porque o Legislativo da Flórida aprovou em março lei que veta a contratação pública de quem tem negócios de mais de US$ 1 milhão com o regime comunista.

Na Flórida, a Odebrecht tem obras nas áreas de saneamento, petroquímica e logística. A empresa espera o sinal verde para iniciar um megaprojeto de ampliação do entorno do aeroporto de Miami, uma parceria público-privada de US$ 700 milhões (R$ 1,288 milhões) que não sairá do papel se a nova norma, prevista para entrar em vigor em 1º de julho, vingar.

A lei, aprovada por maioria, depende de sanção do governador da Flórida, o republicano Rick Scott, que ainda espera o texto para "decidir que ação tomar", segundo a porta-voz de seu gabinete.

No entanto, a norma tem parecer negativo do procurador de Miami, Robert Cuevas, que diz que Estados não devem legislar sobre o tema.

INSULTO

"Nós atuamos alinhados à política externa brasileira", disse à Folha Marcelo Odebrecht, diretor-presidente da construtora, enquanto acompanhava a presidente Dilma Rousseff na viagem a Cuba e ao Haiti, no começo do ano.

Se a frase é sucesso na Venezuela, onde o país de origem de uma companhia pesa na avaliação do governo local, parece ter efeito contrário em Miami. Com ou sem lei, a artilharia dos anticastristas sinaliza que a empresa mexeu num vespeiro ao desembarcar na ilha comunista.

Antes da aprovação da nova regra, Cuevas já havia recebido uma consulta, em julho de 2011, sobre possíveis punições a Odebrecht por seus laços com Cuba.

Para Mauricio Claver-Carone, diretor do pró-embargo U.S.-Cuba Democracy Political Action Committee (Comitê de Ação Política EUA-Cuba), em Washington, os contratos da Odebrecht com Cuba são "um insulto".

"A nossa comunidade é composta por vítimas de uma ditadura. Nos parece um insulto que nosso dinheiro seja usado para contratar companhias sócias de uma ditadura", disse ele à Folha.

Durante a recente visita da presidente Dilma aos EUA, o ministro Fernando Pimentel (Desenvolvimento) conversou com o secretário americano de Comércio, Gary Locke. O ministro disse ter expressado "preocupação que a legislação de um Estado crie problemas para empresas brasileiras".

A Odebrecht não comentou a lei da Flórida, mas lembrou, em comunicado, que nos últimos dois anos investiu mais de US$ 800 milhões em território americano.

O Brasil é o principal parceiro comercial internacional da Flórida, com corrente de US$ 18,5 bilhões de dólares em 2011 -aumento de 18,2% em relação ao ano anterior.

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