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Maconha rende US$ 22 mi ao ano a farmácia

Só os consumidores cadastrados -são 104 mil- podem consumir droga, vendida com finalidade terapêutica

Diretor criou um laboratório para testar a qualidade de seus produtos e fez parceria com uma universidade

Fernanda Ezabella/Folhapress
Steve DeAngelo, diretor-executivo da Harborside Health Center, na estufa da loja
Steve DeAngelo, diretor-executivo da Harborside Health Center, na estufa da loja

FERNANDA EZABELLA
ENVIADA ESPECIAL A OAKLAND, CALIFÓRNIA

"Rainha dos Sonhos", "Alienígena" e "Copa Cabana" estão entre os medicamentos à venda nas prateleiras da Harborside Health Center, após o visitante passar por um detector de metais e uma fila de meia hora.

O estabelecimento na cidade californiana de Oakland está longe de ser uma farmácia comum, ainda que seu diretor-executivo, Stephen DeAngelo, faça questão de chamar de "pacientes" seus 104 mil clientes cadastrados.

Os nomes curiosos estão nas etiquetas de 60 variedades de maconha, ou "medical cannabis", num grande galpão transformado numa loja de iluminação natural, piso de madeira clara e um cheiro de terra molhada.

"Queríamos criar um ambiente no qual o paciente possa sentir que isto é normal, apenas uma loja a mais que ele vai ao longo do dia. Não precisa ser rastafári ou punk rock para se sentir confortável aqui", explica DeAngelo.

A Harborside, empresa sem fins lucrativos fundada em 2006, é o maior estabelecimento de venda legal de maconha do mundo, com faturamento anual de US$ 22 milhões (R$ 40 milhões).

Também oferecem cursos gratuitos de como plantar seu próprio medicamento, aulas de ioga e grupos de apoio para dependentes de álcool, tabaco e até mesmo maconha.

"Dirijo duas horas para vir até aqui e não me importo, é como uma Disney para quem gosta de fumar", disse um rapaz de 34 anos, esperando para ser atendido. "Uso para relaxar, sou muito estressado", afirmou.

Na Califórnia, assim como em outros 15 Estados, o uso da droga é legalizado com recomendação médica, facilmente obtida em consultórios especializados, após o pagamento de taxas de até US$ 110 e uma breve entrevista. Além do governo federal ainda considerar a droga ilegal, as leis estaduais são tão confusas e variadas que praticamente todos os plantadores e vendedores operam num limbo jurídico perigoso, à espera de uma batida policial a qualquer momento.

A Harborside paga mais de US$ 3 milhões em impostos para o Estado e para Oakland, embora seja considerada pela Receita Federal uma organização criminosa de tráfico de drogas. Em outubro, recebeu do órgão uma conta de US$ 2,5 milhões de impostos atrasados.

"Não estou ficando rico, faço isto por amor à causa", disse DeAngelo, que abriu uma ação na Justiça contra a Receita e pode ser obrigado a fechar as portas se perder. "A gente arrisca e espera que no final tudo dê certo."

DeAngelo, ativista da planta desde os 16 anos, é também membro-fundador do Americans for Safe Acess, maior grupo nos EUA de defesa do uso terapêutico e científico da maconha.

No final de 2011, estrelou um reality show da Discovery, a ser exibido neste ano no Brasil, no qual mostra o dia a dia na loja e seus pacientes, desde sua mãe que sofre com artrite e até um pai conservador que busca ajuda para seu filho epilético de quatro anos.

A Harborside gasta US$ 14 milhões por ano em compra de maconha, de cerca de 1.000 plantadores na Califórnia. "Rejeitamos 90% do que nos é apresentado. Não porque é ruim, mas porque podemos escolher o melhor do melhor. Estamos no epicentro do cultivo", diz.

Apesar da variedade da planta, pouco se sabe sobre a diferença de reação de cada uma. "Estamos começando a descobrir, a maconha nunca teve um método moderno de análise", explica DeAngelo, que criou um laboratório para testar a qualidade de seus produtos e fez parceria de pesquisa com uma universidade de Londres.

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