Índice geral Mundo
Mundo
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Extrema direita embaralha 2º turno francês

Kenzo Tribouillard/France Presse
Sarkozy chega para discursar a correligionários, em Paris, após o final das votações
Sarkozy chega para discursar a correligionários, em Paris, após o final das votações

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Uma diferença apertada entre o primeiro colocado, o socialista François Hollande, e o presidente-candidato Nicolas Sarkozy e uma votação surpreendentemente elevada de Marine Le Pen, da extrema-direita xenófoba, embaralham o cenário para o segundo e decisivo turno da eleição francesa, dentro de duas semanas.

Com 99% dos votos apurados, Hollande aparecia pouco mais de um ponto à frente de Sarkozy (28,63% contra 27,08%).

Le Pen, da Frente Nacional, se aproximou dos 20% (18,01% exatamente), ao passo que Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda, dominada pelo Partido Comunista), ficou com apenas 11,13%, bem abaixo dos 14% ou 15% que lhe davam as pesquisas.

Mélenchon e Eva Joly, a candidata dos "verdes" (2,3% dos votos), já anunciaram apoio a Hollande. Mas os dois, somados, não atingem a cota obtida por Le Pen, o que tende a tornar decisivo o voto de seus partidários.

Ela não deu ontem a menor indicação de sua inclinação. Ao contrário: atacou os dois finalistas, ao dizer que o resultado "explode o monopólio dos dois partidos da banca e da finança".

Pesquisas prévias à votação informavam que 53% dos votantes da extrema direita iriam para Sarkozy e apenas 14% para Hollande, o que sugere um cenário de relativo equilíbrio para a eleição final, que acontece no dia 6.

Ainda mais que o centrista François Bayrou (9,11%) tampouco declarou apoio a um dos finalistas.

Em todo o caso, pesquisa do instituto Ipsos, divulgada pelo canal France24, dava a Hollande uma vitória tranquila no segundo turno (54% a 46%), resultado bastante semelhante aos das pesquisas feitas ao longo da campanha para o primeiro turno.

Mas a falha dos institutos (todos) em detectar o avanço da extrema direita e, ao contrário, apontar uma "maré vermelha" na forma do crescimento de Mélenchon embaça bastante o cenário.

QUEM PODE SORRIR

A rigor, quem parece ter razão, bem feitas as contas, é o porta-voz de Bayrou, Yann Wehrling, para quem "não há razão para sorrisos nesta noite em nenhum campo".

De fato, Sarkozy não pode sorrir porque ficou em segundo lugar, o que nunca havia acontecido com um presidente candidato à reeleição.

Hollande até tem direito a um sorriso tímido, por ter chegado em primeiro lugar. Mas admitiu que a votação alcançada pela Frente Nacional causa "sobressalto", sem falar no fato de que a diferença com Sarkozy não foi tão grande quanto esperavam os socialistas.

Bayrou e Mélenchon obtiveram menos votos do que previam.

A rigor, só Marine Le Pen pode sorrir. Mesmo assim, é um sorriso inócuo porque fica fora do segundo turno, apesar de ter obtido a melhor votação de seu grupo. Mais até que a alcançada por seu pai, Jean-Marie Le Pen, que conseguiu passar, em 2002, ao segundo turno, mas com 16,8% dos votos.

A caça a seu espólio eleitoral começou ontem mesmo, pelos dois finalistas.

Ségolène Royal, a candidata socialista em 2007 e ex-mulher de Hollande, disse que o voto na extrema direita "é um voto de protesto, e é preciso dirigir-se a seus eleitores, compreendê-los".

SOMA DA DIREITA

Já a direita "sarkozysta" somou automaticamente o voto de Le Pen aos de Sarkozy, para festejar que "jamais o total da direita foi tão elevado em nosso país", como disse Guillaume Peltier, um dos secretários nacionais da UMP (União por um Movimento Popular, o partido do presidente).

É puro oportunismo, uma vez que na França costuma-se separar nitidamente a direita tradicional da extrema direita, sempre marginalizada por suas tendências xenófobas. Além disso, o voto em Le Pen foi também um voto de protesto contra a gestão Sarkozy.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.