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França busca nas urnas 'grandeza' perdida

Afinidade ideológica, que beneficia Hollande, contará menos no segundo turno que capacidade de recuperar o país

Para ao menos encostar no favorito, porém, Sarkozy precisa cativar mais eleitores de Marine Le Pen, de extrema direita, e de François Bayrou, mais ao centro

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Baixada a poeira da jornada eleitoral, emerge na França um razoável consenso de que a votação de domingo foi "mais um desencanto beirando a exasperação do que entusiasmo pelos projetos propostos", como diz o editorial de ontem do "Monde", assinado por Erik Izraelewicz.

Reforça no "Financial Times" Howard Davies, ex-diretor da London School of Economics e professor na Sciences Po de Paris: "A distribuição dos votos mostra que há muitos eleitores que não sentem que seus pontos de vista estão bem representados pelos partidos principais".

A verdade, completa Davies, é que "muitos franceses gostariam que o mundo fosse diferente e anseiam por uma versão de 'socialismo em um só país' ou um monocromático paraíso dos anos 50".

Conta, portanto, menos a afinidade ideológica e mais a capacidade de demonstrar aos franceses qual candidato -o socialista François Hollande ou o presidente-candidato Nicolas Sarkozy, conservador- é mais capaz de devolver a "grandeur de la France" que o público sente ter-se perdido.

Se a conta para o segundo turno pudesse ser feita apenas pelas afinidades ideológicas, Hollande ganharia, em uma votação que acabará decidida pelos extremos.

O cálculo é simples de fazer: a diferença entre os dois finalistas foi de apenas 558.842 votos no primeiro turno. Mas, como 86% dos eleitores de Jean-Luc Mélenchon (Frente de Esquerda, de maioria comunista) disseram na noite de domingo que votariam em Hollande, a vantagem passa a ser portanto de 4 milhões.

Some-se ainda para Hollande o eleitorado da "verde" Eva Joly (806 mil), na mesma proporção de 86%, e chega-se a 4,6 milhões. Mas é preciso subtrair a fatia dos votantes de Marine Le Pen (Frente Nacional, extrema direita) que disseram preferir Sarkozy. Foram 60% de 6,39 milhões, o que dá 3,8 milhões de votos.

Como o eleitorado de François Bayrou se divide igualmente, será anulado, restando uma diferença pró-Hollande de 800 mil votos, em um total de 45 milhões.

É o favorito, mas o jogo não está jogado. Aí é que entram os extremos: Hollande precisa do eleitorado de Mélenchon e também o da ultraesquerda (Phillipe Poutou, do Novo Partido Anticapitalista, e Nathalie Artaud, trotskista), que juntos tiveram 600 mil votos. Se conseguir, ganha sem sustos.

Já Sarkozy precisa aumentar muito além dos 60% a cota de eleitores de Le Pen que votarão nele e desequilibrar a balança dos órfãos de Bayrou para ao menos encostar no favorito até 2 de maio, data do debate em que o presidente conta destroçar o socialista. O segundo turno tende a ser, portanto, uma batalha entre a matemática, que pende para Hollande, e as percepções, indecifráveis até que os votos sejam emitidos.

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