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Eleição leva Grécia a beco sem saída político

Em meio a crise, principais partidos não devem obter, juntos, maioria no Parlamento no pleito do próximo domingo

Duas maiores legendas são as únicas a favor do ajuste econômico, e investidores temem a ascensão de radicais

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A ATENAS

Decreta Costas Iordanidis, colunista do "Kathimerini" ("O Diário"), jornal de referência na Grécia:

"Se há algo que emerge das pesquisas de opinião pública conduzidas nos últimos meses, é que é praticamente impossível que um único partido saia das eleições com uma maioria clara".

Seria mais justo dizer que nem mesmo uma coligação de dois tradicionais adversários -o conservador Nova Democracia e o Pasok, Partido Socialista Pan-Helênico- obterá 50% mais um dos votos na eleição parlamentar do próximo domingo, 6 de maio.

A mais recente pesquisa dá à direita 21,5% e ao Pasok, 14%. Juntos, portanto, obterão, se a pesquisa estiver certa, cerca de um terço dos votos, quando, na eleição anterior (2009), os socialistas levaram 43,9% e a Nova Democracia foi a 33,48%.

Parece claro, pois, que tem razão o novo líder do Pasok, o ex-ministro das Finanças Evangelos Venizelos, quando diz que o resultado eleitoral tende a levar a Grécia a um "beco sem saída político, que multiplicará e aprofundará a crise econômica e social". Difícil imaginar desenlace mais aterrador quando se sabe que o país caminha para o quinto ano consecutivo de recessão (a previsão oficial é de retrocesso de 5% neste ano, depois dos 6,7% de 2011), que o desemprego está em inacreditáveis 21,8% e que o poder de compra dos salários caiu em 2011 impressionantes 25,3%, para não esticar os números da tragédia grega.

A única forma de evitar o "beco sem saída" antevisto por Venizelos é repetir a coligação entre os dois partidos que se revezam no poder, combatendo um ao outro, desde o fim da ditadura dos coronéis, em 1974.

Foram obrigados a conviver depois que a União Europeia forçou a renúncia do premiê George Papandreou, o líder socialista eleito em 2009, porque pretendeu convocar um plebiscito para que o eleitorado decidisse se aceitava ou não o rígido programa de austeridade imposto em troca de um financiamento de US$ 335 bilhões.

Seria o mesmo que, no Brasil, forçar Dilma Rousseff e José Serra, após a eleição de 2010, a formarem um governo de coalizão.

Embora estejam, juntos, com pouco mais de um terço dos votos, a soma de deputados dos dois partidos pode superar os 151 que formam a maioria absoluta dos 300 membros do Congresso porque o sistema eleitoral grego é maroto: 238 parlamentares saem das urnas nos diferentes distritos, mas 50 são atribuídos como bônus ao partido que ficar em primeiro lugar, mais 12 escolhidos nas chamadas "listas de Estado", candidatos não políticos.

PARTIDOS RADICAIS

De todo modo, é tão evidente a desmoralização dos partidos políticos que não se descartam hipóteses antes impensáveis. Markos Kaminis, do sítio para investidores "Seeking Alpha", imagina que "o povo grego pode tomar uma direção mais radical, que minaria completamente o instável conjunto em que a Europa está pendurada, o que é uma preocupação para investidores".

Kaminis está se referindo à explosão de partidos mais ou menos radicais que surgiram no bojo da crise, a ponto de 32 estarem inscritos para disputar o voto de 9,851 milhões de gregos.

Exceto Nova Democracia e Pasok, todos os demais são contra o programa de ajuste, com maior ou menor virulência, o que explica a advertência de George Provopoulos, presidente do Banco Central:

"Se, depois das eleições, a mais leve dúvida for posta sobre o desejo do novo governo e da sociedade de levar avante o programa de reformas, as perspectivas positivas de hoje serão revertidas, e o país rapidamente se encontrará em uma situação particularmente danosa".

Se se considera que a situação da Grécia, com o programa de reformas, já é trágica, a previsão de Provopoulos equivale a tocar as trombetas do fim do mundo.

Venizelos parece, pois, um otimista quando prevê apenas "um beco sem saída".

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