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China cerca ativistas que ajudaram cego

Governo prende opositores que participaram da fuga de Chen Guangcheng e censura notícias sobre ele na internet

EUA enviam diplomata a Pequim para evitar incidente diplomático; fugitivo estaria sob proteção americana

Petar Kujundzic/Reuters
Zeng Jinyan com foto do marido, Hu Jia, detido anteontem
Zeng Jinyan com foto do marido, Hu Jia, detido anteontem

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Em resposta à fuga espetacular do dissidente cego Chen Guangcheng, a China prendeu pelo menos três ativistas envolvidos no resgate de sua prisão domiciliar e reforçou a censura na internet.

Chen escapou há oito dias, mas a sua fuga só foi descoberta na quinta-feira. Ele estaria em Pequim sob proteção diplomática da embaixada dos EUA, segundo ativistas (não há confirmação oficial).

O governo americano ontem enviou em sigilo à capital chinesa o secretário de Estado assistente para o Leste da Ásia, Kurt Campbell, informou o "New York Times".

Um dos ativistas presos é He Peirong. Ela levou Chen de carro desde a sua cidade, na Província de Shandong (leste), até Pequim, a 800 km.

He esperou o ativista num ponto de encontro predeterminado. Chen chegou aparentemente com a ajuda de um dos guardas que o vigiavam. Ele escalou um muro construído em volta de sua casa e caminhou por quase um dia, se escondendo em vários momentos.

A fuga só foi descoberta quatro dias depois porque Chen, que era constantemente agredido e não recebia assistência médica, passava várias horas por dia deitado na cama fingindo estar doente.

A estratégia, adotada durante alguns meses, fez com que os vigias se acostumassem a não vê-lo durante longos períodos.

Em Pequim, Chen ficou aos cuidados de uma rede de ativistas, que providenciaram vários locais para que ele dormisse apenas uma noite em cada um deles. Na sexta-feira de manhã, ele foi recebido por diplomatas americanos.

Um dos que ajudaram Chen em Pequim foi o ativista Hu Jia, que atua em favor dos soropositivos. "Foi decidido que havia apenas um lugar na China que era absolutamente seguro, a embaixada dos EUA", disse Hu ao "Times", horas antes de ser levado de sua casa pela polícia, anteontem à noite.

O preço pela fuga do ativista cego também está sendo pago pela família. Sua mulher, que teria sido espancada várias vezes ao longo dos últimos anos, e a filha ficaram para trás e permanecem sem comunicação. Um tio e um sobrinho de Chen foram presos.

"Embora esteja livre, as minhas preocupações estão aumentando. A minha mulher, a minha mãe e crianças ainda estão em suas mãos perversas [dos guardas]. Eles vêm perseguindo a minha família por um longo tempo, e a minha fuga apenas os fará vingativos", disse o ativista, em vídeo divulgado na sexta.

O governo está tentando censurar as notícias ligadas a Chen, cujo nome está bloqueado nos sites de busca, assim como links de reportagens da imprensa estrangeira sobre o caso. Para driblar a censura, internautas têm recorrido a apelidos para Chen, como "advogado descalço".

O objetivo de Campbell em Pequim é que sua fuga não se transforme numa crise diplomática na semana em que a secretária de Estado, Hillary Clinton, desembarca no país, onde participa de uma reunião anual de consultas.

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