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Ativista cego deixa a embaixada dos EUA

Hillary Clinton diz que saída de Chen foi negociada com a China, mas ele alega ter sido coagido após ameaça à mulher

Pequim exige pedido de desculpas dos EUA por ter dado abrigo a Chen, que fugiu há 11 dias de sua prisão domiciliar

Jordan Pouille/France Presse
Na cadeira de rodas, Chen Guangcheng é empurrado por uma enfermeira no hospital Chaoyang, após deixar embaixada
Na cadeira de rodas, Chen Guangcheng é empurrado por uma enfermeira no hospital Chaoyang, após deixar embaixada

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

Alegando que o governo chinês ameaçou espancar sua mulher "até a morte", o dissidente cego Chen Guangcheng deixou ontem a Embaixada americana em Pequim após seis dias refugiado, e se internou num hospital da cidade, onde reencontrou a família.

As circunstâncias da saída dele são confusas, porém.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que visita Pequim, disse que os EUA ajudaram Chen em seus "entendimentos" com o governo chinês.

Mais tarde, Hillary instou a China a defender os direitos humanos e disse que os EUA acreditam que "todos os governos têm de responder às aspirações de seus cidadãos por dignidade e o estado de direito e que nenhuma nação pode ou deve negar esses direitos" -sem fazer, porém, referência direta a Chen.

Em entrevista por telefone à Associated Press, do hospital, o dissidente afirmou que foi coagido a deixar a representação e que quer se exilar no exterior por temer pela sua segurança.

Ele estaria recebendo atenção médica por causa de ferimentos da fuga, quando caminhou por quase um dia.

Em entrevista à CNN, Chen pediu ao presidente Barack Obama para deixar o país "o quanto antes". O episódio pode resultar em um incidente diplomático entre as duas maiores economias do mundo.

Pequim acusou os EUA de "interferência em assuntos domésticos" e quer uma retratação pelo abrigo concedido. "A China exige que os EUA peçam desculpas por isso, investiguem exaustivamente esse incidente, punam os responsáveis e deem garantias de que incidentes desse tipo não voltarão a ocorrer", disse o porta-voz da chancelaria, Liu Weimin.

O dissidente, que chegou ao hospital Chaoyang acompanhado do embaixador americano Gary Locke, disse que só saiu da representação diplomática porque os negociadores dos EUA repassaram uma ameaça do governo de que sua mulher seria morta caso não deixasse o refúgio.

À CNN, ele também disse estar "decepcionado" com os EUA por não ter sido informado do que acontecia enquanto estava na embaixada.

Na versão americana, um diplomata disse ao ativista que sua mulher, Yuan Weijing, havia sido trazida a Pequim, mas que o governo a devolveria à sua cidade natal, na província de Shandong, caso ele seguisse na embaixada.

Chen, 40, diz que o casal era rotineiramente espancado desde que ele foi detido pela primeira vez, em 2005. Ele irritou o governo ao defender mulheres forçadas a abortar devido à "política do filho único". A família ficou em prisão domiciliar por 19 meses, até a fuga espetacular do ativista, há 11 dias.

Segundo os EUA, Chen deixou a embaixada após um acordo com a China que assegurava sua segurança e previa a investigação de maus-tratos. Advogado autodidata, ele iria estudar direito numa universidade em Tianjin, distante de sua província natal.

Logo ao deixar a embaixada, Chen conversou por telefone com Hillary, que começou ontem uma visita de três dias a Pequim, agendada antes do início do imbróglio.

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