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Eleições no Euro

Após vencer, Hollande sepulta austeridade

Líder socialista francês diz que sua missão será introduzir a dimensão de crescimento e prosperidade na Europa

Novo presidente obteve 52% dos votos, contra 48% de Nicolas Sarkozy; multidão comemorou na praça da Bastilha

Regis Duvignau/Reuters
Hollande faz seu discurso da vitória em Tulle, sul do país
Hollande faz seu discurso da vitória em Tulle, sul do país

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A PARIS

Eleito presidente da França, com 52% dos votos contra 48% do presidente Nicolas Sarkozy, François Hollande não perdeu tempo em mandar um recado para os parceiros europeus, "antes de tudo à Alemanha": no discurso da vitória, o líder socialista disse que "a austeridade não pode ser uma fatalidade" e antecipou que sua missão como presidente será a de introduzir na Europa "a dimensão do crescimento, do emprego e da prosperidade".

É a reiteração, agora com a força dos votos obtidos, da pregação de campanha no sentido de que a Europa não pode ficar presa à armadilha de uma austeridade que poda o crescimento, corta emprego e derruba governos.

A chanceler alemã, Angela Merkel, telefonou ontem mesmo para Hollande e convidou-o a viajar a Berlim, "o que será rapidamente, após a sua posse", segundo Pierre Moscovici, diretor de campanha dos socialistas. Em princípio, a posse será dia 16.

Hollande, 57 anos, é o segundo socialista a eleger-se presidente na Quinta República, instaurada em 1958, mesmo assim 31 anos após a vitória de François Mitterrand, em 1981 (foi reeleito em 1988).

O discurso da vitória foi pronunciado na praça da Catedral da pequena Tulle (15 mil habitantes), 479 quilômetros ao sul da praça da Bastilha, em Paris, na qual uma multidão que a polícia se recusava a contar aguardava a presença do presidente eleito, em meio a um mar de bandeiras que lhe davam um ar de ONU: havia da Palestina, do Marrocos, do Chile, da Itália, da Costa do Marfim -e, sintomaticamente, da Grécia, país que teve ontem uma eleição de resultado complicado.

Já de madrugada, ele se uniu à multidão na Bastilha, e destacou, em discurso, o "desejo de mudança" que o levou à vitória. "Vocês são um movimento que se levanta por toda a Europa e, talvez, por todo o mundo para promover nossos valores, nossas aspirações e nossas exigências de mudança."

O presidente eleito disse que, em muitos países europeus, houve ontem um "sentimento de alívio, de esperança" [por sua vitória], o que é verdade no caso da Grécia: o jornal "To Ethos", antes mesmo da eleição, dizia que Hollande havia sido "claro e preciso" ao sublinhar que os gregos não aguentavam mais a austeridade e que ele ajudaria a Grécia a entrar no caminho do desenvolvimento.

Os líderes socialistas fizeram questão de enfatizar os compromissos internacionais que aguardam Hollande, começando pela cúpula da Otan nos EUA, na qual o novo presidente explicará a seu colega Barack Obama porque a França retirará as tropas do Afeganistão até o fim do ano.

CÚPULAS

Haverá ainda cúpulas do G8, do G20 e a reunião Rio+20. Sem mencionar tais encontros, Hollande indiretamente antecipou os recados que levará a eles. Ao listar suas prioridades internas (ver quadro nesta página), incluiu "a transição ecológica", tema central da reunião no Rio.

Para o G8 e o G20, vale seu recado para a Europa e também, com certa presunção, sua afirmação de que o mandato que acaba de receber dos franceses é "um novo início para a Europa", mas também "uma nova esperança para o mundo".

Hollande reivindicou sua condição de socialista, corrente que está sendo dizimada na Europa, a ponto de ter perdido 19 eleições desde que estourou a crise.

A social-democracia ficou reduzida ao governo de cinco países europeus (Dinamarca, Áustria, Bélgica, Eslovênia e Chipre), que abrigam apenas 5% da população do continente.

Ao ganhar a França, que Hollande fez questão de lembrar que "não é um país qualquer", é possível que influencie eleições em países igualmente enormes, como Alemanha e Itália, em 2013.

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