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Eleitores franceses trocam bling-bling por Monsieur Normal

DO ENVIADO A PARIS

Monsieur Normal venceu Monsieur Bling-Bling.

Seria o resumo perfeito da eleição, se ela pudesse ser reduzida às características pessoais de François Hollande, o "normal", como ele próprio gosta de se considerar, e de Nicolas Sarkozy, que confessou (tardiamente) se arrepender de ter permitido ser visto como "bling-bling".

É uma expressão originalmente de músicos de rap, mas que o jornalista Nicolas Domenach, da revista "Marianne", furiosamente anti-Sarkozy, conseguiu colar no presidente, por gostar de ostentar sinais de riqueza.

A direita francesa bem que tentou devolver o rótulo pespegado em seu campeão, chamando os socialistas de "esquerda caviar", por falar mal, mas conviver com ricos.

Em Hollande, não cola. Esse advogado que nunca exerceu a profissão porque foi político a vida toda chegou a dizer publicamente que não gosta dos ricos -e seu programa demonstra que quer mesmo puni-los fiscalmente.

Maratonista, 57 anos, pai de quatro filhos, Hollande cumpre um requisito que caracteriza nove de cada 10 administradores públicos franceses: cursou a ENA (Escola Nacional de Administração).

Começou no serviço público como auxiliar discreto e de segunda linha do então presidente François Mitterrand (1981/95), o único socialista que ocupou o Eliseu, o palácio do governo, nos 54 anos da Quinta República.

Quando Mitterrand deixou o poder, Hollande ensaiou dedicar-se à advocacia, mas foi chamado para a secretaria-geral do Partido Socialista, que ocupou por 11 anos. No Eliseu como na rua Solférino, QG do PS, foi tão normal que não se destacou.

A ponto de, mesmo operando a máquina partidária, ter sido suplantado como candidato presidencial, em 2007, por sua então mulher, Ségolène Royal. Parecia justificar o apelido de "Flanby", um flan que é sobremesa popular na França, pela aparente pouca consistência.

Hollande reagiu à derrota de duas maneiras: na vida pessoal, separou-se de Ségolène; na política, decidiu tentar ser candidato à sucessão de Sarkozy. Conseguiu, beneficiado por um escândalo sexual que matou a candidatura socialista favorita, a do então diretor-geral do FMI, Dominique Strauss-Khan.

Com nova mulher, a jornalista Valérie Trierweiler, e um estilo bem menos "Flanby", resistiu muito bem à agressividade de Sarkozy no debate de quarta-feira. O presidente chegou a dizer que a normalidade do adversário era pouco para a estatura que se exige de quem ocupará o Palácio do Eliseu, um dos símbolos da "grandeur" da França, abalada, mas poderosa.

O eleitorado francês decidiu que prefere a normalidade. Mas os desafios postos à frente de Hollande vão exigir, doravante, bem mais que um Monsieur apenas normal.

(CR)

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