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Análise

Hollande precisa dar início a uma discussão séria com a Alemanha

MARTIN WOLF
DO “FINANCIAL TIMES”

As eleições na França e na Grécia revelam que a fadiga da austeridade começou. Não chega a surpreender. Para muitos países, não há saída plausível da depressão, da deflação e da desesperança.

A derradeira chance de fazer mudanças necessárias está nas mãos de François Hollande, o presidente eleito da França, que diz querer dar à Europa "uma dimensão de crescimento e prosperidade".

O aperto fiscal não melhora o desempenho de economias que encolhem: a austeridade só gera mais austeridade. De acordo com o Fundo Monetário Internacional, a razão dívida pública/PIB subirá, não cairá, ano após ano, de 2008 a 2013, na Irlanda, na Itália, na Espanha e em Portugal.

Cairá brevemente na Grécia, mas só por causa da reestruturação da dívida.

Os dados mais assustadores são os do desemprego entre os jovens, que chega a 51% na Grécia e na Espanha.

As perspectivas econômicas são ruins. O FMI prevê que neste ano a economia encolha em Portugal, Grécia, Itália e Espanha.

Isso é politicamente perigoso: o surgimento de partidos ainda mais extremistas parece inevitável. E é economicamente perigoso: quantos jovens talentosos não estão tentando emigrar?

Hollande terá de iniciar um debate sério com a Alemanha sobre como ela espera que a zona do euro ponha fim à crise, observando que parece haver apenas cinco maneiras.

A primeira seria um ajuste simétrico dos desequilíbrios que se formaram e aumentaram antes da crise, somado a reformas nos países mais fracos. A segunda seria a transferência permanente de recursos de países com superavit para os deficitários.

A terceira seria a mudança dolorosa da zona do euro para o superavit externo; a quarta, depressões semipermanentes em países fracos; a última, fragmentação parcial ou total da eurozona.

A única escolha sensata é a primeira. Mas não é esse o caminho seguido hoje.

É preciso que um ritmo realista de ajustes e reformas estruturais acompanhe a austeridade.

A tarefa de Hollande é converter hostilidade em esperança. É possível que fracasse. Mas, entre os líderes europeus, é o único com o desejo e a capacidade de tentar.

Tradução de CLARA ALLAIN

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