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Análise

Morte de peça-chave para acordo aponta para fase de instabilidade

Dificilmente o assassinato foi obra do Taleban, ao menos o grupo ao qual RAHMANI era historicamente ligado

IGOR GIELOW
SECRETÁRIO DE REDAÇÃO DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Em um país no qual morte e violência são partes do cotidiano, o assassinato de Arsala Rahmani poderia parecer mais do mesmo. Não é.

Um maulavi (estudioso sunita) de aspecto frágil, que respirava com grande dificuldade ao falar e nunca abandonava seu rosário muçulmano, Rahmani era uma ponte entre diversos setores da política afegã.

Era visto como fundamental para tentar costurar um acordo de governabilidade futura para o país.

Foi premiê do país entre 1994 e 1995, em plena guerra civil que acabou ganha pelo Taleban. Integrou o governo do grupo fundamentalista como ministro da Educação e Assuntos Religiosos, mas era visto como um moderado.

Quando os EUA expulsaram o Taleban do poder em 2001, por terem abrigado Osama bin Laden enquanto o saudita preparava o 11 de Setembro, Rahmani tornou-se um dos mais celebrados dissidentes do grupo. Mas não fechou portas.

Em agosto do ano passado, falou à Folha sobre as negociações de paz em sua casa. O forte esquema de segurança, com duas revistas, indicava a importância de sua figura. Não foi suficiente.

Rahmani era um cético da capacidade do governo de Hamid Karzai negociar qualquer tipo de solução política.

Considerava o Alto Conselho da Paz uma entidade falha por querer obrigar o Taleban a depor armas antes de conversar. "Eles [os talebans] podem esperar. Esperaram dez anos, podem esperar mais três", disse.

Na entrevista, ele se mostrava descrente de uma eventual guerra civil ao fim do governo Karzai, naquela altura previsto para o mesmo 2014 em que o Ocidente deverá bater em retirada. Acreditava que o Taleban iria integrar-se à vida política afegã.

Sua morte, contudo, lança sombras sobre a previsão. Dificilmente o assassinato foi obra do Taleban, ao menos o grupo ao qual era historicamente ligado.

Isso leva a especular sobre a autoria: dissidentes radicais, a rede terrorista Haqqani ou senhores da guerra descontentes.

Qualquer que seja a resposta, ela aponta para uma instabilidade que já foi vista outras vezes. E que resultou em tragédia.

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