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SABATINA FOLHA antonio PATRIOTA

Regime sírio tem armas de destruição em massa

DE SÃO PAULO

SEGUNDO CHANCELER BRASILEIRO, EXISTÊNCIA DE ARSENAL QUÍMICO e BIOLÓGICO JUSTIFICA TENTATIVA DE DIÁLOGO COM BASHAR ASSAD

O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, 58, justificou a posição brasileira de diálogo com a ditadura síria dizendo que o regime de Bashar Assad possui armas de destruição em massa. O conflito no país já matou mais de 10 mil pessoas desde março de 2011, segundo estimativas da ONU.

"Algum tipo de diálogo com Assad é fundamental. Assad tem armas de destruição em massa na Síria. Então, como é que você faz...?", disse Patriota em sabatina feita pela Folha em parceria com o UOL, ontem, em São Paulo.

Sempre houve fortes suspeitas de que a Síria tenha armas químicas e biológicas, mas é a primeira vez que isso é dito explicitamente.

A sabatina, no Teatro Folha, teve mediação do editor de "Mundo", Fábio Zanini, e contou ainda com Eliane Cantanhêde, colunista da Folha, Claudia Antunes, repórter especial, e Irineu Machado, gerente de notícias do UOL.

O ministro ainda criticou o modo como o Conselho de Segurança da ONU lida com o conflito entre Israel e palestinos, falou sobre a possibilidade de a economia da China superar a dos EUA e previu mudanças na "dinâmica" do G20 com François Hollande na Presidência francesa.

Leia os principais trechos.

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Síria

A disposição para um diálogo [com o regime Assad] não deve ser caracterizada como elogio; é o mínimo que se espera. O Brasil mesmo já tinha se pronunciado com firmeza no Conselho de Direitos Humanos [da ONU] sobre violações cometidas pelo governo.

É uma questão de realismo: é necessário verificar que [o regime] detém as rédeas das Forças Armadas. (...) Assad tem armas de destruição em massa na Síria. Existem suspeitas sérias de que [sejam] biológicas. Então tem que ver com quem é que ficam essas armas. Você imagine, numa revolução inteiramente caótica na Síria, o potencial desestabilizador que isso pode ter.

China

O Plano Quinquenal chinês põe muita ênfase no mercado doméstico; nos últimos anos, o crescimento era muito voltado para fora. Isso envolverá mudanças na economia. Por outro lado, as previsões de que dispomos é de que poderá crescer o comércio nos dois sentidos, com a persistência de superavit para o Brasil.

Há um deficit de conhecimento da China no Brasil. Uma coisa interessante é que, até no auge da bipolaridade, a União Soviética nunca esteve a ponto de superar os EUA economicamente. Neste século, a perspectiva de que a China ultrapasse os EUA no tamanho do PIB é uma realidade.

Israel e palestinos

É um motivo de frustração o fato de que esse tema não é abordado com seriedade no Conselho de Segurança. Talvez seja o principal problema de segurança internacional. Houve a aceitação tácita de que seria terceirizado para o "quarteto" (secretário-geral da ONU, União Europeia, EUA e Rússia), que não está produzindo resultado nenhum.

Não queremos só criticar o "quarteto", também queremos mostrar que a gente é capaz de dar o exemplo. E o maior exemplo que me ocorre é o das comunidades judaica e de origem árabe no Brasil.

Armênia e Turquia

[Sobre a acusação, pelos armênios, de genocídio cometido pela Turquia:] Nós temos relações muito boas com a Armênia e também com a Turquia. A situação que envolve Turquia e Armênia é complexa, uma questão histórica. É importante nós mantermos esse relacionamento com os armênios e com os turcos.

Europa

A Europa é um parceiro estratégico, e sua situação econômica nos preocupa. De vez em quando a teoria econômica esbarra na realidade política. A Grécia, de certa maneira, está se insurgindo contra a ideologia dominante até agora, da austeridade.

[François] Hollande tem o potencial de alterar um pouco a dinâmica no G20 [grupo das 20 maiores economias globais]. A Grécia não tem opções muito boas diante de si. Mas, ao mesmo tempo, a Europa é uma região extraordinária na capacidade de se reinventar.

Eleição nos EUA

A relação Brasil/EUA já atingiu uma "altura de cruzeiro", que se sustentará qualquer que seja a decisão do eleitorado americano neste ano.

Mundo multipolar

Logo que acabou a Guerra Fria, houve um período que se poderia descrever como "momento unipolar" [dos EUA].Não creio que isso seja possível hoje. Já estamos num mundo em que os EUA aceitam a ideia de que precisam cooperar com outros países para determinar cursos de ação. Isso é saudável, positivo.

Conselho de Segurança

O Brasil já desempenha um papel importante. A questão da ampliação é difícil. A China, por razões históricas, resiste à reforma com novos membros permanentes. Mas deixa claro que não são as postulações de países como o Brasil que criam dificuldades.

Venezuela

Tenho conversado com as autoridades venezuelanas [sobre a saúde de Hugo Chávez]. A previsão é que a institucionalidade será cumprida, seja qual for o cenário. Mas, obviamente, nós desejamos ao presidente Chávez a recuperação mais rápida possível.

Cuba

A avaliação [de que a situação dos direitos humanos em Cuba "não é emergencial"] não é individual do Brasil -é do sistema multilateral que lida com direitos humanos. Qualquer problema de direitos humanos em qualquer país é uma preocupação, e todos têm progressos a fazer.

Há quem pense que há situações que preocupam e sem tratamento adequado, como a prisão de Guantánamo [dos EUA]. É muito importante mostrarmos equilíbrio sem nos deixarmos levar pela politização e pela seletividade.

Outro aspecto é que há muito movimento em Cuba. O país está procurando um caminho de atualização econômica e flexibilização de regras. Quando identificamos essa disposição na sociedade, o importante é nos colocarmos a favor.

Haiti

A contrapartida [dos países ricos na recuperação do Haiti após o terremoto de 2010] poderia ser maior. Mas, ao mesmo tempo, não quero minimizar os esforços internacionais.

Expropriação da YPF pela Argentina

O chanceler da Espanha [José Manuel García-Margallo] deu uma resposta muito boa: é uma decisão de política econômica soberana. Os espanhóis estão preocupados com a negociação de compensação. O Brasil não teme nada.

Lei de Acesso à Informação

É um desafio [conciliar a necessidade de sigilo diplomático e a transparência]. Daqui para a frente, teremos que desenvolver uma disciplina muito grande. Como classificar documentos? Quando o diplomata escreve uma mensagem, ele tem que pensar na pessoa que terá acesso àquele documento daqui a 5, 15, 25 anos.

Rio+20

"Temor" e "fracasso" não são palavras que costumo utilizar. Além disso, a conferência não é ambiental; é sobre desenvolvimento sustentável. Eu não creio que a ausência de um ou outro país vá determinar o seu êxito, até porque entendo que alguns países estão enfrentando situações domésticas muito complexas.

Belo Monte e ambiente

O questionamento de Belo Monte pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos foi eivado de erros. Acho que o Brasil é um exemplo da procura de um consenso que reconcilie desenvolvimento e consciência ambiental.

Polêmica com espanhóis

Foi decisão do governo [ampliação das exigências para espanhóis entrarem no Brasil]. Não chamo de retaliação, mas de medida recíproca. As medidas são menos rígidas que as do lado espanhol.

Brasileiro na Indonésia

Já foram escritas cartas ao presidente da Indonésia pedindo clemência. A mãe [de Rodrigo Gularte, acusado de tráfico e condenado à morte no país] pode ter certeza de que tudo que pode ser feito será feito.

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