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Militares têm de hotel a padaria no Egito

Forças Armadas controlam de 20% a 40% do PIB, segundo estimativas, e devem manter influência sobre novo governo

População vai às urnas amanhã e também na quinta para votar e escolher dirigente máximo do país árabe

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Mármore por todo lado, lustres de cristal, poltronas com detalhes dourados, spa, restaurantes variados, jardins e até uma pista de boliche. Nada que lembre uma base militar, mas esta é uma propriedade do Exército egípcio.

O Hotel Masah, um dos mais luxuosos do Cairo, pertence ao vasto império econômico das Forças Armadas do Egito, que vai do turismo à produção de alimentos, peças automotivas e panelas.

Estimativas da fatia do Exército na economia egípcia são divergentes, variando entre 20% e 40%.

Num ponto há consenso: ela é tão significativa que sua influência será mantida após as eleições presidenciais desta semana, mesmo que a junta militar transfira aos civis o poder assumido com a queda do ditador Hosni Mubarak, no ano passado.

O Hotel Masah (diamante, em árabe) é apenas um exemplo do fenômeno que levantou voo nos anos 80.

Foi quando o Exército começou uma onda de investimentos para compensar a redução do efetivo de 800 mil militares, que se tornou excessivo com o acordo de paz com Israel, em 1979.

Os empreendimentos foram a forma encontrada pelos militares para reduzir o "preço da paz", explica Robert Springborg, especialista da Escola Naval de Pós-Graduação dos EUA e autor de vários livros sobre o Egito.

"Com o acordo de paz, os militares teriam de cortar o efetivo para 250 mil homens", diz ele. "Com os empreendimentos, eles conseguiram mantê-lo em 450 mil, que é o número atual."

Springborg, que já viveu no Cairo e prestou consultoria ao governo egípcio, diz que é impossível precisar a parcela da economia sob responsabilidade dos militares, mas calcula que eles controlem entre 40 e 50 empresas.

Elas abrangem setores estratégicos que geram bilhões de dólares em receita, incluindo construção civil, telecomunicações, alimentos e bens de consumo.

Quando alguém compra uma geladeira ou um fogão, são grandes as chances de adquirir algo produzido por uma indústria do Exército.

ESTABILIDADE

Além de gerar receita, o poderio econômico representa um fator de estabilidade que os generais usam. Durante a falta de pão que causou distúrbios em 2008, o Exército acionou suas padarias para acalmar a população.

Bem ao lado do Hotel Masah, uma dessas panificadoras ocupa um enorme complexo numa área militar fortemente vigiada.

Secular ou islamista, liberal ou conservador, não importa, diz Springborg: seja quem for o vencedor das eleições presidenciais que começam amanhã, ele não poderá forçar o Exército a abrir mão de seu império de armas, cimento e pães.

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