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Julia Sweig

Igualdade de casamento

Obama precisa do dinheiro de doadores gays ricos e precisa dinamizar os progressistas na eleição

A primeira campanha de Obama elevou as expectativas, com o slogan populista "mudanças nas quais podemos acreditar". Sua origem racial mista fez da eleição um momento profundamente significativo.

Mas, até o início deste mês, a hesitação de Obama em apoiar o casamento gay passava uma impressão insincera e política, agora que os direitos LGBT se tornaram a questão de direitos civis que vai definir nosso século. Quando o vice-presidente Biden e dois ministros publicamente apoiaram o casamento gay e o presidente rapidamente fez o mesmo, não constituiu surpresa o fato de as pesquisas também terem mostrado os americanos duvidando da sinceridade de Obama.

Quase todos os setores de sua base -liberais, progressistas, democratas, jovens, afroamericanos, latinos ou antiguerra- já encontraram algo na Presidência de Obama que os decepcionou. A Casa Branca desenvolveu para alguns a reputação de ser a mais politicamente calculista da história. Seu estilo de liderança é avesso a conflitos. Até pouco tempo atrás, Obama parecia pensar que as melhores ideias vão prevalecer ou poderão ser negociadas por um diálogo bipartidário.

Mas Washington já não resolve suas batalhas domésticas de maneira tão civilizada. Para agravar as coisas para autoridades eleitas, a decisão da Suprema Corte que legaliza os "superPACs" (dinheiro privado ilimitado para campanhas) pode ser a maior ameaça desde a Guerra Civil às esperanças de justiça encarnadas por Obama na memorável noite de 2008 quando subiu sobre o palco do Grant Park, em Chicago, como presidente eleito.

Obama precisa do dinheiro de doadores gays ricos. E precisa dinamizar os progressistas, assegurando que os jovens, especialmente, votem. As motivações terão sido só políticas e financeiras? Não creio que isso tenha importância real.

Seis anos atrás, na escola de meus filhos, foi criada a Aliança Gay-Hetero de Pais para ajudar a escola a incorporar os direitos dos gays em seu currículo de direitos civis. Alguns pais relutantes confundiram a meta de ensinar as crianças a enxergar a escolha de amar uma pessoa do mesmo gênero como sendo um direito civil fundamental com ensiná-las sobre comportamentos sexuais. Foram precisos alguns anos para mostrar a diferença aos pais e para superar a mensagem um tanto quanto aviltante de "tolerância", substituindo-a pelo conceito de igualdade e proteção plenas garantidas em lei.

O exercício pedagógico empreendido por nossa escola e que o país como um todo está enfrentando com dificuldades acaba de ganhar um ímpeto importante do presidente. Em 122 palavras, ele traçou um marco contra o qual serão medidas leis e normas culturais futuras.

Os eleitores nos Estados indecisos do sul podem rejeitar Obama em razão do casamento gay. Mas é a economia, e não as questões sociais, que vai decidir a eleição nacional.

Seja qual for o resultado desta eleição, e sejam quais forem os cálculos por trás da decisão de apoiar o casamento gay, Obama proporcionou outro momento como o de Grant Park. Ele reforçou a capacidade de o país abraçar a diversidade -não como mantra politicamente correto, mas ingrediente essencial da democracia genuína.

AMANHÃ EM MUNDO
Clóvis Rossi

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