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Egípcios votam em massa em primeira eleição livre

Primeiro dia do pleito presidencial tem longas filas; candidatos estão embolados

Entusiasmo e poucos incidentes marcaram votação; ex-premiê de Mubarak é hostilizado em seção eleitoral

MARCELO NINIO
ENVIADO ESPECIAL AO CAIRO

Na longa fila formada ontem logo cedo num posto de votação de Dhoki, bairro de classe média na região central do Cairo, as preferências eram tão variadas que explicavam o clima de total indefinição em torno desta eleição presidencial no Egito.

Mulheres para um lado, homens para o outro. A população é conservadora na alma, mas está dividida entre candidatos seculares e islamitas e sobre a identidade que o país deve assumir.

No primeiro de dois dias de votação da primeira eleição presidencial livre da história -o resultado deve sair em 29 de maio-, o Egito celebrou o momento mais esperado da transição com entusiasmo e praticamente sem incidentes.

Quinze meses após o levante popular que hipnotizou o mundo e levou à queda do ditador Hosni Mubarak, a histórica eleição se concentra no duelo entre ex-membros do regime e líderes islâmicos.

Os favoritos no campo secular são o ex-chanceler Amr Moussa e Ahmed Shafiq, último premiê de Mubarak. Entre seus detratores, os dois são conhecidos como "fulul" (remanescentes, em árabe), símbolos da antiga ordem que o levante tenta enterrar.

Odiado pelos ativistas anti-Mubarak, Shafiq foi alvo de hostilidade após votar no Cairo. Manifestantes jogaram sapatos contra ele, obrigando o chefe da seção a suspender a votação por alguns minutos. "Criminoso", gritaram. "Abaixo o regime militar."

Nas seções de votação, a polarização era visível entre eleitores de diferentes tendências. Mas havia um anseio comum por um "líder forte", capaz de lidar com os imensos desafios do Egito.

"Precisamos de um homem de verdade", disse a professora Shirina Hussein, depois de votar no socialista Hamdin Sabahi, o único dos candidatos mais cotados que escapa da polarização islamistas/velha guarda.

Governada por três ditadores militares desde sua fundação, em 1953, a república egípcia abre uma página cercada pelo desejo popular por um "pai da nação", desta vez manifestado num inédito processo democrático.

O declínio da economia no último ano e principalmente a insegurança pública sentida desde a queda de Mubarak estimulam esse desejo também entre os eleitores dos candidatos islâmicos.

Um deles, o independente Abdel Aboul Fotouh, conseguiu uma aliança improvável entre liberais e salafistas (muçulmanos ultraconservadores) e tornou-se um dos favoritos para chegar a um provável segundo turno, daqui a três semanas. "Ele é forte e provou que está a favor da revolução", diz o estudante Mahmoud el Diba.

O outro candidato islamita mais cotado, Mohamed Mursi, conta com a lealdade de seus seguidores gerada pela formidável estrutura de assistência social da Irmandade Muçulmana, o maior movimento político do país.

"Eles nos ajudam com comida, remédios, balões de gás e até organizando casamentos", diz o ambulante Ahmed Jabali.

A possível vitória de um candidato de orientação religiosa preocupa os liberais, principalmente depois que os islamitas conquistaram 70% do Parlamento nas eleições do início do ano.

"Se o presidente também for islamita, um desequilíbrio empurrará o Egito para um extremo religioso que não corresponde à sua identidade natural", afirma Hisham Kassem, analista político.

Leia mais sobre o Egito no blog Oriente Médio
folha.com/120455

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