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Egito consagra islamita e aliado de Mubarak Primeira eleição presidencial livre no país leva ao 2º turno representantes da Irmandade Muçulmana e do velho regime Fundamentalista Mursi, 61, lidera a votação, seguido por Ahmed Shafiq, 71, que foi premiê de ex-ditador MARCELO NINIOENVIADO ESPECIAL AO CAIRO A fase decisiva da primeira eleição livre da história do Egito deverá ser um confronto entre duas forças extremas que polarizaram o país nas últimas décadas: o islã político e a elite secular alinhada com o Exército. Segundo a apuração dos votos divulgada pela imprensa egípcia, os finalistas são Mohamed Mursi, da Irmandade Muçulmana, e o ex-comandante da Aeronáutica Ahmed Shafiq, último premiê do ditador Hosni Mubarak. O resultado oficial sai apenas na terça-feira. Candidato do partido Liberdade e Justiça, braço político da Irmandade Muçulmana, Mursi ficou em primeiro, com 25% dos votos, desmentindo as pesquisas. Shafiq, ainda segundo apuração da mídia egípcia, teve 24%, e irá ao segundo turno em 16 e 17 de junho. Em terceiro, com desempenho surpreendente sobretudo no Cairo, ficou o socialista Hamdin Sabahi (22%), o preferido de grande parte dos ativistas que se reuniram no ano passado na praça Tahrir, levando à queda de Mubarak. Tiveram desempenho decepcionante o dissidente da Irmandade Abdel Fotouh (18%) e o ex-secretário-geral da Liga Árabe Amr Moussa (11%), que era apontado como favorito. DUELO O duelo que definirá o sucessor de Mubarak, hoje preso e aguardando julgamento, será disputado entre duas forças distantes do ideal que deflagrou a revolta contra o ex-ditador e promete polarizar ainda mais o Egito. "É o pior cenário possível", disse Ahmed Khairy, porta-voz dos Egípcios Livres, partido liberal criado após a queda de Mubarak, há 15 meses. Em entrevista ao jornal estatal "Al Ahram", Khairy descreveu Mursi como um "fascista islâmico" e Shafiq como um "fascista militar". Na largada para a campanha para o segundo turno, porém, os dois finalistas tentaram afastar as acusações, reivindicando o papel de defensores da revolução. Concluída a apuração, Essam el Erian, um dos principais dirigentes da Irmandade, pediu diálogo nacional. Ilegal praticamente durante todos os seus 84 anos de existência, o movimento mais poderoso do país conquistou quase metade das cadeiras do Parlamento no início do ano, e agora está próximo de obter a hegemonia da política no Egito. Entretanto, o desempenho parlamentar considerado decepcionante por muitos e a promessa não cumprida de ficar fora da disputa presidencial afastaram eleitores da Irmandade e minaram sua credibilidade. Na campanha, Mursi adotou um tom ambíguo em relação ao papel da religião no Estado, defendendo ao mesmo tempo a sharia (lei islâmica) e a democracia. Num prenúncio do antagonismo que marcará as próximas semanas, a campanha de Shafiq não demorou ontem para partir para o ataque. "Sabemos que a Irmandade Muçulmana roubou a revolução dos jovens", disse o porta-voz de Shafiq, Ahmed Sarhan, reforçando o discurso centrado na restauração da ordem. "A revolução acabou. Durou um ano e meio." O jornalista Ashraf Khalil, autor de um celebrado livro sobre a revolução, resumiu seu desânimo num tuíte: "Se for mesmo Shafiq/Mursi eu vou lançar uma campanha pelo voto no diabo. Por que deixar por menos?". Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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