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'Quero um visto para o Brasil', diz eleitor contrariado com resultado

DO ENVIADO AO CAIRO

"Você pode me ajudar a conseguir um visto para o Brasil?", pergunta o técnico em computação Diaa el Sherbiny, com ar deprimido. "Depois dessa eleição, não dá mais para ficar no Egito."

Sherbini, 26, é um clássico exemplo da geração batizada de "filhos da revolução".

Jovens anônimos, que estavam na linha de frente dos protestos que culminaram na queda de Hosni Mubarak, que agora se sentem órfãos, excluídos do novo Egito que acreditavam ter criado.

A desilusão já era grande antes da eleição e fez muitos deles boicotarem o voto.

Mas virou desespero ao saberem que o vitorioso da eleição que tornaram possível será um fundamentalista islâmico -ou, horror maior, um aliado de Mubarak.

Mahmoud Ward, 29, funcionário de uma firma de telefonia, não pregou os olhos na noite posterior à votação, assombrado com o futuro que vê pela frente.

Ativista do grupo 6 de abril, um dos organizadores do movimento que começou no Facebook e acabou enchendo a praça Tahrir, também não se vê mais vivendo no Egito.

"A revolução morreu. Depois de tanto sacrifício, podemos ter um segundo Mubarak no poder. É muito deprimente", diz, contando que já aciona parentes no exterior em busca de acolhida.

A escolha entre Ahmed Shafiq e Mohamed Mursi é o pior dos mundos imaginados por eles. Mas a rejeição ao ex-premiê de Mubarak ainda é maior que uma possível vitória dos islamitas.

Forçados a optar, preferirão o segundo. "Tudo, menos Shafiq", diz El Sherbiny.

Dividido e sem um líder capaz de enfrentar as urnas, o movimento jovem hoje não é mais capaz de encher a praça Tahrir.

Mas a revolta estava presente ontem no epicentro dos protestos de 15 meses atrás. Em lágrimas, o aposentado Adel Ibrahim, 57, segurava o sapato, no tradicional gesto árabe de ultraje.

"Shafiq é Mubarak e tudo de ruim que tivemos nos últimos 30 anos", gritava, cercado de meia dúzia de jovens com chinelos nas mãos. (MN)

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