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Análise Questão central para o país fica escondida por guerra de versões SALEM H. NASSERESPECIAL PARA A FOLHA Além da terrível violência que divide e traumatiza a Síria, há uma guerra de versões sobre o que de fato está acontecendo e um cabo de guerra entre os que querem decidir ou controlar os eventos na Síria e em seu entorno. A questão central deveria ser a transformação da sociedade e do Estado para que os sírios obtenham autonomia, liberdade, justiça social e governos que adiram ao Estado de Direito. Há dissenso entre os sírios sobre os caminhos dessa transformação. A sociedade está dividida em relação ao papel que deve ter o atual regime no futuro do país. Mas essa questão central vai sendo atropelada pelos jogos de poder que dizem respeito à configuração política regional, a ser moldada por meio de mudanças ou gerenciamento de regimes. Quem, na Síria e fora dela, se opõe ao regime, quer por questões de política interna, quer por conta das posições sírias na política regional e mundial, enfatiza o péssimo histórico em termos de democracia e direitos humanos e aponta para a violência atroz de que é capaz o regime. Quem, ao contrário, tende a reconhecer o importante papel que a Síria desempenha na região e acredita na capacidade do regime de se regenerar ou conduzir uma transição pacífica aponta para o fato de ser a violência responsabilidade também de outros grupos que não o regime. As duas versões contam partes, ambas verdadeiras, da história. Ocorre que os dois lados nesse cabo de guerra tendem a instrumentalizar a questão humanitária e o discurso da democracia. Mas não são essas as razões últimas por que são tomadas as decisões. No Conselho de Segurança, e para além dele, estão em oposição países que têm interesse na queda do regime, ou ao menos em vê-lo enfraquecido, e aqueles para quem a Síria deve se manter firme em suas posições e alianças. Os dois campos devem lidar, ao mesmo tempo, com realidades e limites concretos e com os custos políticos de seus posicionamentos. Entre os limites que se impõem aos países ocidentais estão a grande força de que ainda dispõe o regime e os enormes riscos que a instabilidade síria traz para a região e o mundo. Entre os custos políticos estão aqueles que devem levar em consideração a Rússia e outros ao se posicionarem contra a versão dos fatos que tem maior curso. Enquanto se dá sequência a esse jogo, é preciso ficar de olho no monstro da violência sectária que, ao lado daquela do regime, ameaça incendiar o país e se perguntar se será possível voltar a colocá-lo na caixa de onde foi tirado. SALEM H. NASSER é coordenador do Centro de Direito Global da Direito GV Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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