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'Vatileaks' viola sigilo divino, diz igreja

Para o Vaticano, houve vazamento de cartas de fiéis ao papa Bento 16, que acreditavam estar falando com Deus

Mordomo de Bento 16, que está preso, deve depor nos próximos dias e pode incriminar autoridades religiosas

NICOLE WINFIELD
DA ASSOCIATED PRESS, NA CIDADE DO VATICANO

O Vaticano procurou ontem mostrar sob uma ótica muito diferente o escândalo crescente em torno de documentos vazados supostamente pelo mordomo do papa Bento 16, dizendo que os papéis não tratam apenas de questões de governança interna da igreja.

Representariam também os pensamentos de pessoas que, ao escrever para o papa, acreditavam estar essencialmente falando perante Deus.

Por essa razão, de acordo com o subsecretário de Estado do Vaticano, arcebispo Angelo Becciu, o papa Bento 16 está especialmente chocado e quer chegar às origens do escândalo para restabelecer um sentimento de confiança entre os fiéis.

"Considero a divulgação de cartas roubadas um ato imoral de gravidade ímpar", disse Becciu ao jornal "L'Osservatore Romano". "Não apenas os papéis do papa foram roubados; as pessoas que o procuraram, como vigário de Cristo, tiveram sua consciência violada."

O chamado "Vatileaks" vem atormentando o Vaticano há meses e representa uma das maiores quebras de confiança e segurança do papa na memória recente.

O mordomo do papa foi preso após encontrarem em seu apartamento no Vaticano documentos a que ele não deveria ter acesso.

Poucos pensam que Paolo Gabriele, o mordomo, tenha agido sozinho. Ele foi preso em 23 de maio e será interrogado formalmente nos próximos dias. Os advogados de Gabriele informaram que ele prometeu cooperar plenamente com a investigação, levantando a hipótese de que prelados de escalão mais alto estejam envolvidos.

MOTIVAÇÕES

As motivações dos vazamentos ainda não estão claras. Para alguns comentaristas, o objetivo seria desacreditar o secretário de Estado do Vaticano, cardeal Tarcisio Bertone. Para outros, o objetivo é solapar os esforços do Vaticano para aumentar sua transparência financeira.

E há os que acham que a intenção é mostrar a fraqueza do papa, que tem 85 anos, no comando da igreja.

Becciu disse que o papa está magoado pelo fato de pessoa tão próxima dele ter sido presa por comportamento "injustificável".

Tradução de CLARA ALLAIN

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