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Egito condena Mubarak à prisão perpétua

Ditador é considerado conivente com a morte de mais de 800 pessoas durante revolta popular contra seu governo

Familiares de vítimas esperavam pena de morte e protestam contra absolvição de filhos do ex-presidente

France Presse
Ditador Hosni Mubarak escuta sua sentença deitado numa maca, dentro de uma jaula
Ditador Hosni Mubarak escuta sua sentença deitado numa maca, dentro de uma jaula

MARCELO NINIO
DE JERUSALÉM

Quase um ano e meio após ser deposto em meio a protestos populares no Egito, o ditador Hosni Mubarak foi sentenciado ontem à prisão perpétua por conivência nas mortes de mais de 800 manifestantes durante a revolta.

Mubarak, 84, é o primeiro ditador levado em pessoa a um julgamento desde o início da Primavera Árabe, a onda de levantes deflagrada na região no fim de 2010.

Internado em prisão domiciliar num hospital perto do Cairo desde o início do julgamento, em agosto, Mubarak foi absolvido das outras duas acusações que enfrentava, corrupção e enriquecimento ilícito, pois o juiz entendeu que os crimes prescreveram.

Pelo mesmo motivo, os dois filhos de Mubarak, Gamal e Alaa, também foram absolvidos de acusações semelhantes. Ambos, porém, permanecem detidos porque estão sendo processados num caso de manipulação do mercado de ações.

Responsável pelo aparato de segurança na época da revolta, o ex-ministro do Interior Habib al Adli também foi condenado à prisão perpétua.

Aguardado com enorme expectativa no Egito e em todo o mundo árabe, o anúncio do veredicto foi acompanhado em transmissão ao vivo pela TV e por centenas de pessoas em frente à academia de polícia do Cairo, onde ocorreu o julgamento.

Embora a Promotoria tivesse pedido pena de morte para o ditador, o anúncio da sentença inicialmente foi motivo de comemoração entre parentes das vítimas, muitas com fotos dos mortos.

Logo em seguida, porém, a alegria deu lugar à indignação, quando o juiz anunciou a absolvição de quatro autoridades de segurança, alegando falta de provas de que ordenaram a matança.

Uma breve pancadaria teve início dentro da corte, enquanto advogados das vítimas gritavam que Mubarak escapará da sentença após um recurso e pediam uma "faxina no Judiciário".

Milhares de pessoas foram às ruas protestar contra o veredicto. Na praça Tahrir, centro do Cairo e epicentro da revolta contra Mubarak, uma multidão cantava slogans exigindo a execução do ditador.

Em Alexandria, segunda maior cidade do país, a raiva se voltou contra o juiz que conduziu o julgamento. "Ahmed Rifaat, seu covarde, por quanto você vendeu o sangue dos mártires?", cantavam os manifestantes.

A defesa do ditador irá recorrer da sentença. "Há falhas legais por todos os ângulos", disse Yasser Bahr, um dos principais advogados da equipe legal de Mubarak.

Afirmando ter examinado 60 mil documentos, a corte disse não haver provas de que Mubarak deu ordens para matar manifestantes, mas o acusou de negligência por não impedir a violência.

Antes de ler o veredicto, o juiz Rifaat fez um resumo sombrio dos 30 anos do ditador no poder, acusando-o de governar por meio de opressão, "sem consciência e com coração gelado".

Deitado numa maca dentro da jaula que serviu de banco dos réus no julgamento, de óculos escuros e com os cabelos intensamente negros, apesar da idade avançada, Mubarak ouviu o veredicto sem esboçar reação.

A TV estatal informou que o ditador teve um mal estar ao ser retirado da corte e depois recusou-se a deixar o helicóptero que o levou até o presídio de Tora, no Cairo, onde cumprirá a pena.

O ativista Hossam Hamalawy previu uma nova onda de protestos. "O que esperar de um julgamento em que o antigo regime julga a si mesmo?", disse. "O veredicto prova que a revolução está longe de acabar."

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