Índice geral Mundo
Mundo
Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

China censura web para barrar protesto

Governo bloqueou até busca por índice da Bolsa que lembrava data do massacre na praça da Paz Celestial, em 89

Hong Kong, território chinês com regime político diferenciado, registrou a maior manifestação do dia

FABIANO MAISONNAVE
DE PEQUIM

No 23º aniversário do massacre de estudantes na praça da Paz Celestial (Tiananmen), o governo chinês voltou a usar as táticas de anos anteriores, com prisões de ativistas, censura na internet e aumento do policiamento.

Só não conseguiu prever uma incrível coincidência entre a data e o índice de sua maior Bolsa de Valores.

A Bolsa de Xangai fechou ontem com 64,89 pontos, repetindo os números da data 4 de junho de 1989 -em mandarim, o evento muitas vezes é chamado de "seis quatro".

A coincidência foi rapidamente assinalada em comentários de internautas, a ponto de a censura oficial banir buscas pelo termo "índice de Xangai" nos populares sites de microblogs (o Twitter está bloqueado na China).

Entre as palavras bloqueadas está "vela", pois alude à cerimônia anual em lembrança das vítimas em Hong Kong. Até o emoticon (sinal gráfico usado na internet) de vela foi vetado pelo site de microblog Sina Weibo, que tem cerca de 300 milhões de usuários.

Na ex-colônia britânica, 180 mil pessoas participaram da tradicional vigília ontem à noite, um recorde. Por ter regime político diferenciado, Hong Kong é o único lugar da China onde atos sobre o massacre são permitidos.

Também ali, foi publicado na semana passada um livro do prefeito de Pequim na época, Chen Xitong. Na obra, pela primeira vez um alto dirigente faz autocríticas sobre o massacre, que deixou centenas de mortos -o número preciso nunca foi divulgado.

"Considero uma tragédia que poderia ter sido evitada, deveria ter sido evitada, mas não foi evitada", escreveu.

Já na China continental, a polícia deteve um número indeterminado de dissidentes, prática frequente para evitar manifestações e entrevistas.

Durante visita à praça ontem de manhã, a reportagem da Folha constatou um reforço na vigilância policial. Para entrar na praça, era necessário passar por dois pontos de inspeção com raio-X. Minuciosos, os policiais revisavam até o conteúdo escrito de pequenos papéis nos bolsos.

Para a China, os protestos de 1989 foram uma "revolta contrarrevolucionária". O assunto está banido na imprensa e nas escolas.

Na semana passada, Ya Weilin, 73, pai de um dos estudantes desaparecidos há 23 anos, se enforcou em Pequim, após anos pedindo que o governo explicasse o que havia passado ao seu filho.

Em 2004, ele gravou um vídeo contando a sua história: "A China e o Partido Comunista são tão grandes, mas vocês mataram o meu filho e não pediram perdão".

CRÍTICA E REAÇÃO

Ontem, o governo chinês mostrou "forte insatisfação" contra os EUA, que exortaram Pequim a soltar manifestantes presos em 1989. "O lado americano tem ignorado fatos e publicado declarações ano após ano, fazendo acusações sem fundamento contra a China", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Liu Weimin.

Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.