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Lugo pode ser afastado hoje no Paraguai

Congresso abre processo de impeachment contra presidente, a ser votado pelo Senado; Brasil tenta evitar sua saída

Uma das acusações é de responsabilidade por mortes em conflito no campo semana passada; ele prometeu reagir

SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Numa decisão rápida e inesperada, o Congresso paraguaio abriu ontem processo de impeachment contra o presidente Fernando Lugo.

O afastamento pode ocorrer já hoje, em sessão do Senado. Surpreendida, a presidente Dilma Rousseff enviou ontem o chanceler Antonio Patriota a Assunção para trabalhar pela permanência de Lugo no cargo.

A principal acusação ao presidente é ser responsável pela morte de 17 pessoas, na última sexta-feira, num conflito agrário entre policiais e camponeses que ocupavam uma fazenda em Curuguaty, fronteira com o Paraná.

Pela manhã, a abertura de processo foi aprovada na Câmara por 76 parlamentares. Apenas 1 ficou ao lado de Lugo, evidenciando seu isolamento político. Depois, foi a vez do Senado.

Aberto o processo, a Câmara, atuando como "promotora", formalizou à noite as acusações, que serão julgadas no Senado. Se aprovadas por 30 dos 45 senadores (dois terços), Lugo é afastado.

O presidente terá duas horas para apresentar sua defesa, a partir das 13h. Lugo fragilizou-se ao perder ontem o apoio do seu principal apoiador, o PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico).

A legenda aderiu a um processo de impeachment que vinha sendo estudado havia alguns dias pela principal sigla de oposição, o Partido Colorado. Lugo agora tem apenas 3 deputados em 80 e 3 senadores em 45.

"Lugo distanciou-se de todos, não há nenhuma possibilidade de que continue governando. Essa é uma crise política, da qual o conflito agrário foi apenas um detonador", disse à Folha o analista Francisco Capli, da First Analisis y Estudios.

Segundo o analista, a crise vem desde a eleição do presidente, um ex-bispo católico ligado a movimentos sociais, em 2008. "Ele se aliou ao partido liberal, sendo de esquerda, e passou a querer satisfazer a ultraesquerda. Perdeu todos esses apoios, agora buscou o Partido Colorado. Nunca conseguiu formar uma aliança para governar e se indispôs com todos."

MANIFESTAÇÃO

Quando eleito, Lugo tornou-se o primeiro presidente a romper a hegemonia de mais de 60 anos do Partido Colorado no poder.

Simpatizantes do presidente se concentraram na praça em frente ao Congresso, em Assunção. A polícia postou franco-atiradores do batalhão de Operações Especiais em prédios no entorno.

Se confirmada a saída, assume o vice, Federico Franco, que rompeu com Lugo.

Em sua defesa, o presidente disse ontem que não renunciará ao cargo para o qual foi eleito pelo voto popular.

"Não interromperei um processo democrático e me submeterei ao processo político, como mandam as leis paraguaias, com todas as suas consequências, como indica a Constituição", disse.

Lugo lembrou ainda que a vontade popular expressada nas urnas deveria ser respeitada e que estava sendo "alvo de ataques por parte de setores que sempre foram contra as mudanças".

A próxima eleição presidencial está prevista para abril de 2013. No Paraguai, não há reeleição.

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